António Rodrigues, 62 anos, é um dos quatro marinheiros que, todos os dias, fazem a travessia entre o cais de Lordelo, no Porto, e o cais da Afurada, em Vila Nova de Gaia. A lancha “Flor do Gás” é o transporte alternativo para muitos que atravessam o rio Douro, quer seja por motivos profissionais, quer seja por lazer.

António é o mais novo da tripulação. As vidas dos quatro funcionários da embarcação, concessionada por Maria de Lurdes Silva, estiveram sempre ligadas ao mar. Os antigos pescadores encontraram na lancha uma forma de fazerem aquilo que sabem e gostam: navegar ao sabor do vento.

Mesmo que não viva as aventuras outrora passadas nas ilhas das Caraíbas, enquanto marinheiro de um navio de cruzeiro, António gosta de trabalhar na embarcação “Flor do Gás”. Bom contador de histórias, o antigo pescador não perde a oportunidade de partilhar muitas das experiências que a pesca de bacalhau ou o navio de cruzeiro lhe trouxeram.

Enquanto a lancha atravessa o Douro em direcção ao cais da Afurada, os locais que António conheceu e as pessoas que o marcaram são o tema de conversa. Antigamente, a embarcação era o meio de transporte de pescadores e peixeiras, mas hoje os passageiros não são muitos. “Ao fim-de-semana, temos mais passageiros”, afirma António.

“De Inverno, não anda por cá ninguém”, conta o antigo pescador. Mas, a partir de Abril até Setembro, os turistas enchem a embarcação, principalmente ao sábado. Ultimamente, os passageiros trazem as suas bicicletas e “atravessam para o lado do Porto para poderem pedalar até Matosinhos”.

São João e “Marés Vivas” proporcionam aumento de passageiros

Para além disso, às vezes alguns pescadores da Afurada aproveitam a embarcação para se dirigirem para o porto de Leixões, onde saem para o mar. Os quatro funcionários dividem-se em dois turnos. O primeiro turno começa a navegar às 6h00. “Há dias em que aparecem pescadores que vão trabalhar as redes, em Matosinhos”, mas há outros “em que não aparece ninguém”, conta António. E, nessas alturas, “a lancha anda de um lado para o outro vazia”, explica.

Porém, o Verão atrai mais pessoas para passear na lancha por dois motivos. Primeiro, o bom tempo “proporciona passeios mais agradáveis e traz as pessoas para a rua”, afirma o antigo marinheiro. Segundo, as festas populares e os festivais dão outra vida à zona ribeirinha do Porto. A Alfandega é um dos centros da festa do São João e a lancha ganha outra vida nesse dia. E nos três dias de Julho em que se realiza o “Marés Vivas”, na Afurada, a lancha é um dos meios de transportes mais acessíveis para quem quiser ir assistir aos concertos do festival.

Maria de Lurdes Silva é dona da concessão das lanchas “Flor do Gás” e “Flor do Douro”. Ambas fazem a travessia do Douro. A funcionar desde 1961, a “Flor do Gás” já passou por várias restaurações e paragens impostas. Em 2009, a embarcação reprovou na vistoria da Polícia Marítima e, por isso, teve parada mais de um mês. Essas paragens e o aumento do preço do bilhete, de 55 cêntimos para um euro, originaram a perda de alguns passageiros.