Nas Galerias Lumière, no Porto, pede-se um novo rumo. Um ano depois da remodelação prometida pelo empresário José Albuquerque, os comerciantes queixam-se das condições em que o centro comercial se encontra e exigem uma alteração de fundo.

Alfredo Silva, proprietário da loja mais antiga das galerias, não poupa críticas ao empresário. “Não me faça rir. Ele não fez nada, só veio prejudicar isto”, responde Alfredo Silva quando questionado acerca das remodelações propostas por José Albuquerque, há um ano. O proprietário da Cartofilia Portuense, que vende antiguidades, afirma-se como uma pessoa “sem papas na língua” e, por isso, garante, “sem receios”, que o empresário “transformou as galerias numa fábrica de bêbados”.

O lojista acusa José Albuquerque de ter deixado que o espaço se transformasse num “mictório”, com um “cheiro nauseabundo” ao domingo de manhã. Alfredo conta que, em eventos organizados por José Albuquerque como festas académicas com mais de 500 pessoas, já viu quer bebidas guardadas em casas-de-banho, quer distúrbios dentro do centro comercial. Para além disso, Alfredo Silva acusa o empresário de ter lançado um foguete dentro das galerias e das casas-de-banho estarem “sempre imundas”. Por isso, “a ASAE proibiu-o de fazer o que quer que seja. Ele trouxe o caos. Nem sequer faz limpezas, basta ver a tampa do piano“, afirma Alfredo.

Limpeza assegurada por José Albuquerque

Larissa Medeiros, gerente de alguns espaços dos quais José Albuquerque é proprietário, afirma, em defesa do empresário, que é complicado “uma só pessoa” fazer uma remodelação deste cariz. “Tem que partir de todos os que estão interessados em que aquilo vá para a frente”, diz Larissa. Por outro lado, garante que a limpeza sempre foi assegurada pelo empresário e “não pelas pessoas que usufruem do espaço”.

“Todas as pessoas que têm lojas devem arcar com as despesas e não é isso que acontece”, conta a representante de José Albuquerque. A gerente garante que o empresário paga duas empresas de limpeza. Uma empresa faz a limpeza de manhã, “que é a parte mais grossa por causa do lixo da noite como os cigarros e os copos”. E outra faz a manutenção da parte de tarde. “É um espaço onde as pessoas bebem e, claro que sujam sempre alguma coisa”, mas “não há destruição”, defende Larissa. A gerente diz, ainda, que a acusação do lançamento do foguete dentro da galeria não corresponde à realidade. Na inauguração do bar Inferno, no corrimão da escada principal das galerias “existia um líquido que originava fogo”, mas é “algo que é habitual em festas e não traz qualquer perigo”.

Nas galerias, permanecem cinco das lojas mais antigas: Cartofilia Portuense, Poetria, Flores e Artes e as lojas dos estilistas Ana Salazar e Storytailors. Porém, a última loja de moda está a mudar-se para o Centro Comercial Miguel Bombarda. A loja vai ser transferida por iniciativa de José Albuquerque, arrendatário da loja da Storytailors nas Galerias Lumière.

Uma nova remodelação

Luís Aranha, presidente do grupo Ana Salazar, garante que não quer retirar a loja das galerias situadas na Rua José Falcão. Pelo contrário, o grupo quer mudar a actual situação e, para tal, tem em mãos um novo projecto de remodelação. As galerias têm um estatuto legal peculiar porque são compostas por fracções compradas por várias pessoas. Assim, “não existe aquela ideia consensual de centro comercial” e, por isso, “o projecto tem que ser reformulado”, afirma Luís Aranha.

O grupo afirma-se como “driver” da revitalização do centro comercial e já se encontra em negociações com o proprietário do espaço e com empresários de diversas áreas, para “transformar” as Galerias Lumière. “Consideramos que é um sítio muito bonito que merece ter outra dimensão na cidade do Porto”, conta Luís Aranha. Por isso, “existe um movimento que pretende levar para lá empresas de qualidade de vários sectores”, nomeadamente “lojas de retalho, moda e restauração”. Depois, tem que se “criar uma organização que irá gerir o centro e, desta forma, queremos dar o nosso know-how para fazer uma coisa engraçada”, afirma o presidente do grupo Ana Salazar.

Em relação ao empresário José Albuquerque, Luís Aranha garante que é “boa pessoa”. “Há pessoas que têm boa vontade e boas ideias, mas as coisas não funcionam”. Luís acredita que o empresário teve “uma boa ideia, mas a sua vocação é mais dirigida para a restauração e para um conjunto de actividades que têm pouco a ver com aquele centro”. Assim, existe um “antagonismo” nas propostas de remodelação apresentadas por ambos.

Na opinião dos comerciantes ouvidos pelo JPN, as galerias são um local de “abre e fecha”. Além disso, queixam-se da falta de aproveitamento e da falta de condições e infra-estruturas para trabalhar. Fátima Fraga, proprietária da Flores e Artes, afirma que se tivesse tudo a funcionar, poderia ter mais clientes, mais lucro e, assim, contratar uma funcionária. Há seis anos que a florista está nas galerias e não quer sair de lá porque a sua loja situa-se na parte exterior. Caso contrário, Fátima garante que já tinha saído há muito. Para além disso, a florista pede um centro comercial à imagem do Centro Comercial Bombarda.

O grupo Ana Salazar pode ter a solução para inverter a situação e aproveitar a potencialidade das Galerias Lumière. Dentro de duas semanas, vão ser conhecidos mais pormenores do projecto anunciado por Luís Aranha, do grupo Ana Salazar.