“Nós não aceitamos o discurso de inevitabilidade que circula por aí e queremos lutar pelas nossas convicções”. É esta a posição dos responsáveis e subscritores do “Manifesto dos 74 nascidos depois de 74: O Inevitável É Inviável”. O documento quis assinalar o 25 de Abril, “chamando a atenção para a conquista da liberdade de escolha”, explica Lídia Fernandes, uma das responsáveis pelo documento [PDF].

Entre trabalhadores, desempregados, artistas e estudantes, são 74 os que subscrevem o manifesto, lutando pelo consenso entre partidos. O objectivo, segundo a responsável, é acabar com o “ataque que está a ser feito aos direitos sociais, económicos e cívicos” e contribuir para o desenvolvimento do país. Nascidos depois de 1974, os apoiantes do manifesto acreditam “nas conquistas e nos valores reforçados com a revolução de Abril”, salienta Lídia Fernandes. O manifesto conta com nomes como Marta Rebelo, ex-deputada socialista, o humorista Ricardo Araújo Pereira e José Luís Peixoto.

As três “ofensivas”

Os direitos laborais, o Estado social e a ideia de inevitabilidade são alvos da indignação dos subscritores do “Manifesto dos 74 nascidos depois de 74”.

Para Lídia Fernandes, há uma tendência para a “precarização das condições laborais” e para a “naturalização do desemprego”. “Está-se a subestimar a situação das pessoas que estão desempregadas e a adiar-se a procura de respostas que criem emprego”, acusa a responsável.

Além do trabalho, os cortes no investimento público afectam também a educação, a saúde e a protecção social, que são “vistos pelos governantes como privilégios e não como direitos”. Em causa está um “enfraquecimento e desmantelamento do Estado social”, alerta Lídia Fernandes. “Quando os cortes são para as pessoas que mais precisam, que têm problemas de saúde e dificuldades financeiras, temos a noção que o Estado social está em risco, assim como os direitos fundamentais”, explica a responsável.

A terceira “ofensiva” do Manifesto dos 74 prende-se com a “ideia de inevitabilidade que transforma a política em ratificação de escolhas já feitas”. “O que nos tem sido “vendido” é que a única resposta à situação actual é o asfixiamento do papel social do Estado para reestruturar a economia”, afirma Lídia Fernandes. A responsável considera esta atitude um “retrocesso tremendo” em relação ao que aconteceu no 25 de Abril, já que a revolução trouxe a “possibilidade de discutir as propostas democraticamente e não aceitar a receita que o FMI e a Comissão Europeia impõem”, sublinha.

Sociedade civil está mais desperta e tem uma palavra a dizer

A sociedade portuguesa está cada vez mais acordada para a situação do país. Em pouco mais de um mês, desde a demissão do Governo a 23 de Março, já surgiram três manifestos.

Além do “Manifesto dos 74 nascidos depois de 74”, também os documentos “Um Compromisso Nacional” e “Convergência nacional em torno do emprego e da coesão social” ganharam espaço entre os partidos. Enquanto o “Compromisso Nacional” chama a atenção para a crise económica e financeira, a “Convergência nacional” sublinha a importância do trabalho, do salário e dos apoios sociais. Os três manifestos têm em comum a luta pelo consenso entre os partidos políticos.