É um fim de cena. É o que um bailarino sente quando, ao desafiar os limites do corpo para obter a perícia técnica e artística perfeitas, se lesiona. Numa arte onde o corpo é tudo o que o artista precisa, sofrer uma lesão envolve aspectos psicológicos como “tristeza, frustração, ansiedade e, em casos mais extremos, o catastrofismo”, explica a psicóloga Diana Frasquilho, psicóloga e especialista na área da dança.
Alguém que depende inteiramente do corpo para trabalhar, no momento em que se depara com o “fantasma” das lesões, tenta ignorá-lo, lutar contra ele. Consumir drogas, álcool, ou até mesmo acusar tendências suicidas, são repercussões que uma lesão pode ter na vida de um bailarino.
Joana Tojal tem uma lesão e continua a dançar. A bailarina dança no Instituto “Alicia Alonso”, da Universidade Rei Juan Carlos de Madrid, e assume que a única forma de curar a lesão é “deixar de dançar”. Mas não o faz.
Como Joana, muitos bailarinos ignoram os sinais de lesão e mantêm-se a dançar mesmo com dores, agravando a sua condição física. O fenómeno de dançar estando lesionado aparece quase sempre como uma norma neste mundo. Parar devido a uma lesão é visto por estes profissionais não só como uma ameaça real à sua carreira e à sua sustentabilidade financeira como também “uma ameaça à sua própria identidade desenvolvida em torno do conceito de que a dor é sinal de progresso e ultrapassá-la é sinal de valentia e mesmo de cumprimento do dever”, esclarece Diana, autora da tese “Lesões em Bailarinos: Impacto Psicológico e Contributo da Psicologia para a Reabilitação”.
“Deveria existir uma prescrição de psicoterapia a par da fisioterapia”
Por sua vez, Sofia Romão esteve cinco meses afastada da dança, devido a uma lesão. A bailarina teve o discernimento de parar e regressou apenas quando melhorou. Reconhece a dificuldade de lidar com isso, mas assume que tratar da reabilitação rapidamente foi a sua prioridade. Recuperar de uma lesão implica, para além de tratamentos para reabilitação física, um acompanhamento psicológico.
Diana Guerreiro já teve oportunidade de consultar bailarinos lesionados e considera que este acompanhamento é “fundamental para reduzir o impacto psicológico, promover a adesão à reabilitação física e à recuperação, promover um retorno célere à actividade e prevenir prováveis recidivas”. Pode,ainda, acontecer a lesão ser irrecuperável e, nessa situação o acompanhamento psicológico é também fundamental “para a reconstrução de um projecto de vida sustentável e satisfatório”, remata a psicóloga.
Diana considera essenciais as estratégias psicológicas adoptadas no apoio à recuperação dos bailarinos. A psicóloga frisa que deveria fazer-se “dois em um” e ser prestado apoio tanto ao nível físico como psicológico. Este apoio pode ser uma motivação para que não haja uma desistência a meio do tratamento. Factores como uma “percepção errada da gravidade da lesão, pensamentos e emoções negativas face à recuperação, estratégias de coping desadequadas e a falta de suporte social” são, muitas vezes, a causa da desistência precoce.