Na Talks 2.0 só uma coisa era proibida: estar infeliz. E, na missão de levar a alegria ao posto de trabalho e explorar a criatividade de cada um, todas as “armas” são válidas. Logo à entrada, o chão do evento, realizado na Fundação Cupertino de Miranda, estava pejado de plástico de bolhas de ar, que ia sendo rebentado com os pés, à medida que os participantes entravam. Já no kit de boas-vindas, para além das habituais folhas de apontamentos e programa do evento, um balão e um lápis, que viriam a ser usados mais tarde.

Mas comecemos pelo princípio. A primeira intervenção do dia esteve a cabo de Katja Tschimmel, criativa e professora na ESAD, que começou por tentar perceber se as pessoas criativas são realmente felizes. Para tal, entende, é preciso M.O.T.I.V.A.C.A.O: Motivação intrínseca, Objectivos alcançáveis, Tolerância ao erro e ambiguidade, Inteligência específica, Vontade e dedicação, Atenção e energia, Conhecimento geral e especializado, Activação da percepção com todos os sentidos e imaginação e, finalmente, Operações de processo e pensamento criativos.

A professora voltaria a entrar em palco na apresentação seguinte, servindo de “cobaia” para uma demonstração de Vasco Gaspar, que tentou explicar à audiência “onde mora a felicidade no cérebro”. Segundo este licenciado em Psicologia, é possível mudar o cérebro com exercícios, para ajudar na procura da felicidade. O primeiro painel, dedicado à educação para a criatividade e a felicidade, ficaria completo com a intervenção da equipa da Escola da Ponte, que fez questão de explicar ao público presente o que torna este projecto educativo diferente num sério caso de sucesso.

Criar a sua própria felicidade

Depois do primeiro coffee break, foi altura de encher balões…literalmente. A ideia, explica Felipe Ávila, foi preencher os balões com “os problemas do dia-a-dia” e fazê-lo rebentar com um lápis, para seguir em frente sem preocupações. Depois de toda a sala ter cumprido o exercício em ruidoso uníssono, passou-se à apresentação dos oradores que se seguiriam. O segundo painel, onde se falou da criação e da busca da própria felicidade, contou com a presença de Ana Saltão, Artur Santos e Fernando Pinho.

Ana Saltão, actriz, aproveitou o espaço da Talks 2.0 para explicar a génese do projecto Contagiarte. A arte continuaria, mas noutra vertente com o segundo orador: Artur Santos, designer gráfico e ilusionista, que presenteou a plateia com dicas para se conjugar dois trabalhos distintos e alguns truques de magia.

Seguir-se-ia uma das intervenções mais aplaudidas do dia (e, também, uma das mais longas). Durante largos minutos, Fernando Pinho falou do seu percurso de vida, arrancando gargalhadas do público à medida que ia contando as suas aventuras e desventuras até chegar à empresa Sonae. Pinho descobriu, um dia, a sua paixão pela arte e, depois de muito planeamento e alguns contratempos, resolveu deixar para trás um emprego de sucesso (e Portugal) e rumar a Londres para seguir o seu sonho. A mensagem de Fernando Pinho é simples: é preciso persistência para conseguir alcançar grandes objectivos e nada é impossível de executar. “Há dois anos servia cafés e filmava casamentos. Hoje tenho uma empresa, sou produtor, director de cena…”, terminou Fernando Pinho.

A criatividade e a felicidade também têm lugar nas grandes empresas

Depois da inspiração deixada pelo último orador e de uma sessão de perguntas e respostas bastante participada, era tempo de fazer uma pausa para almoço. A tarde continuaria com o terceiro painel, composto por representantes de empresas que provam que é possível garantir o sucesso e a felicidade nos grupos de trabalho.

O primeiro a subir ao palco seria Gonçalo Cruz, da Jump Willy, empresa sediada no Porto, mas que já tem escritórios em Londres e Los Angeles. A receita para conseguir sucesso e evolução rapidamente? Ter pessoas criativas, satisfeitas e felizes na empresa, garante Gonçalo Cruz. “O nosso dia-a-dia tem de ser uma diversão”, explica.

Quem concorda com esta premissa é Celso Martinho, o orador que se seguiria. Fundador do SAPO, o director técnico aproveitou para traçar o percurso do portal e ressalvar que, à medida que uma empresa cresce, é preciso apostar “na comunicação e na partilha”. Finalmente, João Fonseca encerraria o painel com o sistema de geração de ideias da Unicer. Partindo da pergunta “Porque é que tudo é tão difícil?”, João Fonseca explicou como se passa de uma empresa dedicada à eficiência para uma empresa que prima pela inovação.

Uma empresa feliz é uma empresa lucrativa

Depois do coffee break final, a apresentação mais esperada. E não era para menos. Mal chegou ao palco, Alexander Kjerulf começou logo por colocar a audiência a saltar da cadeira, coisa que, aliás, se repetiria durante uma boa parte da sua apresentação.

Para este “Chief Hapiness Officer” (ou CHO) ter empregados felizes e ser feliz no emprego é fundamental, pois uma empresa em que todos se sentem bem é mais criativa e produtiva e obtém melhores resultados. E o que significa ser feliz no emprego? Para Alexander, ser feliz no trabalho é dizer “ainda bem que é segunda-feira”. Consegue-se tal feito, explica, valorizando os resultados obtidos e reforçando o relacionamento com os colegas.

A crise que se vive actualmente é, para Kjerulf, a melhor altura para começar a mudar mentalidades no trabalho. O orador terminaria a sua intervenção com o anúncio do lançamento, em versão e-book, do seu bestsellerHappy Hour is 9 to 5“, em português e de forma gratuita.

No final, a organização fez um balanço positivo do evento, que esteve bem perto de esgotar. “Tínhamos 224 lugares na sala e vendemos cerca de 210, 215 bilhetes. Atingimos quase a meta”, entende Felipe Ávila da Costa. O sucesso não se pautou só pela quantidade de participantes mas, também, pela qualidade das intervenções. “Foi um dia bem passado. Os oradores surpreendem sempre e, aqui, surpreenderam pela positiva”, entende.

Ainda não se pensa na edição seguinte, até porque os próximos três meses serão gastos a recuperar do trabalho árduo que é montar um evento deste género. “Agora vamos hibernar durante uns meses, mas para o próximo ano estaremos, provavelmente, aí com mais um tema para deixar as pessoas a pensar”.