O uso da Internet pelas crianças continua a aumentar. Segundo dados do Eurobarómetro, o maior crescimento aconteceu entre as crianças mais novas. Em 2008, 60% das crianças entre os seis e os dez anos já eram utilizadoras da Internet. Verifica-se, também, que há cada vez mais crianças que exploram redes sociais como o Facebook. Em Portugal, 38% das crianças entre os nove e os doze anos já tem perfil em redes sociais que, segundo o estudo “EU Kids Online” [PDF], “são altamente populares entre as crianças europeias”.

“Há todo um fascínio pela tecnologia” por parte das crianças que pode justificar estes números, afirma a responsável pelo estudo em Portugal, Cristina Ponte. “As redes sociais são um fenómeno da moda e as crianças querem estar onde estão os adultos. Estamos a falar de uma criança entre os nove e os doze anos que quer ter um perfil numa rede social”, justifica.

“Para uma criança e adolescente, as redes sociais são a mesma coisa que foram as cartas na geração dos pais e dos avós”, continua a responsável. Com as cartas “havia correspondentes em todas as partes do mundo, conhecia-se pessoas, trocava-se ideias à distância”, portanto “não é um contexto muito diferente do contexto das redes sociais”, explica Cristina Ponte.

Uma das redes sociais mais populares entre os utilizadores da Internet é o Facebook e Portugal não é excepção. “A rede mais importante era o Hi5 que, de repente, ficou arredado e houve uma deslocação massiva para o Facebook”, afirma Cristina Ponte.

As redes sociais limitam o acesso a menores de 13 anos. As crianças portuguesas entre os nove e doze anos que já têm um perfil no Facebook ou noutra rede social estão a violar a lei (“Online Privacy Protection”). Cristina Ponte considera que “é preferível não impor limite de idade, porque isso é para as crianças mais novas mentirem sobre a idade e terem o perfil dessa forma”. Em vez do limite, a responsável aconselha as redes sociais a “dirigirem mensagens adequadas às crianças mais novas no sentido de as capacitar para usar a rede com mais segurança“.

Para a psicóloga Diana Vaz Ribeiro, “não é saudável que crianças entre os nove e os doze anos já tenham um perfil numa rede social”, porque “nessa idade deviam estar preocupadas com outras coisas”. “Eu costumo dizer que se existe a rede social, não vale a pena proibir. Deve haver uma educação e um controlo parental, que não passa por proibir mas sim por acompanhar”, defende.

Os pais acompanham os filhos na aventura das redes sociais?

Embora as crianças assumam a liderança no que toca à navegação na Internet, outra grande mudança evidenciada pelo Eurobarómetro consiste no crescimento significativo do número de pais que usa agora a Internet. Actualmente, na Europa dos 27, apenas 9% das crianças entre os seis e os 17 anos navegam na Internet enquanto os seus pais não o fazem.

Esta mudança não significa, no entanto, um total acompanhamento dos filhos na exploração de redes sociais. Apesar de no estudo “EU Kids Online” mais de metade dos pais inquiridos (70%) declararem que falam com os filhos sobre o que eles fazem na Internet e acompanham de perto quando a criança explora o mundo online (58%), há “pais, sobretudo de famílias com poucos recursos, que não são utilizadoras e que não sabem de todo o que as crianças fazem na Internet”, explica Cristina Ponte.

Fátima Duarte tem conhecimento que a filha de doze anos tem uma conta no Facebook, mas “não controla” aquilo que ela faz na Internet ou nas redes sociais, porque não percebe muito “dessas coisas de informática”. Já Maria de Pinho alerta a filha de dez anos para “não marcar encontros com ninguém e não aceitar amigos que não conheça através do Facebook ou Hi5”.

Para a psicóloga Diana Vaz Reis, é “gravíssimo se os pais não têm conhecimento do que os filhos fazem nas redes sociais e na Internet”. E aqueles que não estão a par das novas tecnologias “devem juntar-se aos filhos e aprenderem com eles quando estão a dar os primeiros passos”, aconselha.

Estes são alguns conselhos para pequenos e graúdos, depois de serem conhecidas as conclusões do estudo realizado pela rede europeia e pela plataforma EU Kids Online e financiado pela União Europeia. O objectivo era inquirir como é que as crianças e jovens, dos nove aos 16 anos, usavam a Internet. O inquérito foi feito em 25 mil lares europeus e, além das crianças, também os pais foram ouvidos.