Manuel António Pina ganhou o maior prémio de literatura em língua portuguesa, o Prémio Camões. De acordo com o jornal “Público”, a decisão foi unânime na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O júri que atribuiu o prémio é constituído por Edla Van Steen, António Carlos Secchin, Rosa Maria Martelo, Abel Barros Baptista, Ana Paula Ribeiro Tavares e Inocência Mata. Em entrevista ao JPN, o escritor revelou-se surpreendido com o reconhecimento.

Como é que se sente face ao prémio Camões?

Senti-me surpreendido. Fiquei absolutamente surpreendido. Não tinha ideia nenhuma. Nem sabia que o júri estava hoje a reunir no Rio de Janeiro.

O que é que este prémio significa para a sua carreira como escritor?

Os prémios não tornam as obras literárias nem melhores nem piores. São uma forma de reconhecimento. É sempre lisonjeador ser reconhecido, mas não é isso que é o propósito da minha obra literária. Embora todos fiquemos satisfeitos, pois gostamos de ser reconhecidos, independentemente de termos dúvidas (e eu tenho muitas) sobre se o reconhecimento é merecido.

Trata-se do maior prémio da língua portuguesa. Como é que acha que a sua obra marca o partimónio linguístico do nosso país?

Não marca. Eu escrevo sobretudo poesia que tem uma pequena igreja de leitores. Está na alma da própria literatura. É a forma mais radical de literatura e próxima da língua. Mas a poesia tem uma dimensão em termos quantitativos muito limitada. Também escrevo no domínio infantil.

A poesia é a sua praia?

Não sei. Não fui eu que escolhi a praia, foi esta praia que me escolheu a mim. Não decidi escrever poesia, escrevo desde que me lembro. Quando era míudo escrevia em versos, aquelas coisas pequenas que se pergunta aos miúdos, aquelas coisas insignificantes sobre “O que queres ser quando fores grande”. Eu escrevia sobre isso, fazia versos sobre isso. A poesia está muito próxima da música e a música é a forma mais elementar de expressão, próxima do corpo. Do ritmo. A poesia é ritmo, a vida é ritmo, inspiração. A forma mais espontânea de nos exprimirmos é através da música.

Qual é a obra pela qual tem mais estima e carinho?

Não consigo dizer. Normalmente, quando se pergunta isso a um escritor ele responde que é a última, porque é aquela que é a mais próxima daquilo que ele é naquele momento. Mas eu não consigo. Organizei uma antologia da minha própria poesia e tive imensas dificuldades.