É debaixo da muralha fernandina, com vista para a imponente Sé do Porto, que se encontra a mais antiga casa de fados da cidade. Fundada em 1968 por Heitor Gil de Vilhena, a Casa da Mariquinhas esteve cerca de dez anos fechada e chegou a funcionar como armazém. Entretanto, Jorge Couto e Vítor Gonçalves, que andavam à procura de uma oportunidade de negócio, resolveram ressuscitar a “Mariquinhas”. “Quando passámos aqui e a vimos fechada, tivemos logo vontade de reabri-la”, sublinha Vítor Gonçalves.

O filho de fadista e o filho de cozinheira juntaram o ADN para dar uma nova vida à mais antiga casa de fados da cidade, numa aposta que pretende “conciliar o fado profissional à boa cozinha portuguesa e a um bom atendimento”, explica Jorge Couto.

Mas a “boa cozinha portuguesa” de que fala não se limita apenas aos típicos petiscos nacionais. Na ementa, há espaço para as inovações gastronómicas de Sandra Santos, como um cordon-bleu de menta “que ainda não saiu muito” e uma receita de bacalhau “com um molho especial e secreto” que tem sido o grande sucesso à mesa da “Mariquinhas”, revela a cozinheira.

Para além de voltar a colocar o Porto na rota do fado, a Casa da Mariquinhas propõe-se a “ajudar a desmistificar o estigma de que a Sé está ligada a roubos e drogas”, explica Jorge Couto. “Queremos ajudar os turistas que andam junto à Sé a descer um bocadinho e a conhecerem a beleza que esta zona esconde”, acrescenta Vítor Gonçalves.

A quem possa parecer estranho que dois jovens apostem no mercado dos fados, Jorge Couto elucida: “é a nossa música nacional mais reconhecida e é importante que os turistas tenham oportunidade de a ouvir”. Contrariamente à tendência, a velha casa de fados também tem conquistado público cada vez mais jovem, um sinal de que “os bares e as discotecas têm o seu lugar, mas a cultura também”, remata Jorge Couto.

Nas paredes da Casa da Mariquinhas, repousam apenas dois xailes de fadista. Mas o orgulho dos proprietários está à entrada da casa-de-banho: um lavatório do século XIX adquirido numa loja de antiguidades. A sala principal pode receber até 40 pessoas, mas a reserva deve ser acertada antecipadamente. Para quem passeia a dois, há uma pequena mesa no terraço que convida a um vinho do Porto, enquanto se aprecia a muralha fernandina, a silhueta da Sé e a movida da zona onde nasceu a cidade do Porto.

Na casa que viu cantar Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro, nem todas as noites são noites de fado. Para já, há actuações à sexta-feira e ao sábado, com possibilidade de marcações para grupos nos restantes dias. Entre os nomes que já actuaram na “Mariquinhas”, os proprietários destacam “Alfredo Guedes, Lurdes Rodrigues, Fátima Couto, Ricardo Barreto” e prometem alargar a oferta para mais fadistas e para mais noites de fados.

Heitor Gil de Vilhena: “É com muito gosto que vejo esta reabertura”

Heitor Gil de Vilhena fundou a Casa da Mariquinhas na década de 60 e por lá viu passar fadistas conceituados, entre os quais Amália Rodrigues.Ao JPN, o fundador da mais antiga casa de fados da cidade confessa que sentiu “uma enorme emoção e saudade” no dia da reabertura.

Heitor Gil de Vilhena sublinha que abriu a “Mariquinhas” num impulso de “grande coragem” e destaca “o trabalho fantástico” levado a cabo por Vítor Gonçalves e Jorge Couto.