Ricardo Oliveira é licenciado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores pela Faculdade de Engenharia da UP. Há sete anos cruzou o atlântico rumo aos Estados Unidos. Candidatou-se à University of Califórnia Los Angeles (UCLA) e, mais tarde, obteve uma bolsa de estudos da Fundação para a Ciência e Tecnologia, o que lhe permitiu investir num Doutoramento em Ciências dos Computadores. Em 2008, começa num projecto de segurança de rede denominado “Cyclops“, cujo objectivo era alertar as empresas quando o tráfego era desviado como parte de um ataque.

Hoje, tem uma empresa própria nos EUA, a “TousandEyes“, da qual são clientes empresas como a Priceline, a Nokia e o Facebook. Com 33 anos, Ricardo Oliveira foi o grande vencedor do prémio PAPS-LBC Leadership Award 2010, atribuído pela “Portuguese American Pos-Graduate Society” (PAPS). O jovem empresário português concedeu uma entrevista, via e-mail, ao JPN.

Como surgiu o projecto da “ThousandEyes”?

A “ThousandEyes” surgiu na sequência do projecto “Cyclops” começado por mim quando estava em Silicon Valley, em 2008, e continuado na UCLA. O “Cyclops” faz a detecção de “route hijacking” na Internet, um problema equivalente ao roubo de identidade a nível de roteamento em que o tráfego é desviado causando um “denial of service”. A “ThousandEyes” começa, oficialmente, em finais de 2009, quando ainda estava a acabar o Doutoramento e o meu sócio estava a trabalhar na Nokia. Nessa altura, recebemos financiamento da National Science Foundation, eu mudei-me para Silicon Valley e começámos a “ThousandEyes”.

Qual tem sido a evolução do projecto?

Na primeira fase, o projecto estava focado em monitorização de DNS (Domain Name System) à escala global e tem atraído clientes que prestam serviços de DNS, como a Verisign. A segunda fase do produto está mais virada para a camada de aplicação e tem como alvo “content providers” e sites de “e-commerce”, como a Priceline. Oferecemos uma plataforma SaaS (“software-as-a-service”), direccionada a grandes empresas com “data centers” distribuídos em várias partes do mundo.

Pretendem expandir a empresa?

Sim, a empresa está em constante expansão. Aliás neste momento estamos a recrutar pessoas de todo o mundo para trabalhar na “ThousandEyes”.

O que significou para si ser o vencedor do Leadership Award 2010?

Foi importante, não só para mim mas principalmente para a “ThousandEyes” ter este reconhecimento, deu-nos bastante visibilidade. Ao mesmo tempo, espero que sirva como inspiração para outros portugueses que pensam criar empresas e mostrar que, através de inovação e correr riscos, é possível ter sucesso, mesmo num sitio tão competitivo como Silicon Valley.

Porque é que decidiu ir para os EUA?

Sempre tive o desejo de estudar fora de Portugal e os EUA são o destino ideal para alguém que trabalha com ciência e tecnologia todos os dias. Depois de acabar o curso de Engenharia Electrotécnica na FEUP e trabalhar uns anos na indústria em Portugal, decidi apostar em enviar candidaturas para vários sítios nos EUA e acabei por vir parar a UCLA.

Acha que se tivesse ficado em Portugal teria o mesmo sucesso?

Penso que não. Em Portugal, e na Europa em geral, o sistema ainda é o limite, enquanto nos EUA nós somos o limite. O sistema aqui está desenhado para acomodar o risco, criar empresas, inovar e falhar se for preciso, mas o importante é ter tentado. Há bastante mais capital de risco aqui e, para o tipo de mercado que a “ThousandEyes” está a atacar, é o melhor sítio para trabalhar.

Aconselha os jovens na sua área a fazerem o mesmo?

Sim, para quem ainda é jovem, principalmente nos dias que correm em que infra-estrutura é barata e com tantos serviços online grátis, não há nenhum motivo para não começar uma empresa. O importante é começar e arriscar em ser diferente.

Que projectos tem para o futuro?

Fazer crescer a “ThousandEyes”, ficar pelos EUA nos próximos anos e, depois, quem sabe, talvez dar um salto por Portugal.