Faça chuva ou faça sol, jogue-se em casa ou fora, as claques estão sempre a proteger as “costas” dos seus clubes do coração. Como se compreende, numa situação normal, as equipas necessitam e anseiam mais pelo apoio dos seus adeptos quando vão jogar fora de “portas”: nessas alturas é que, tal como os amigos, se vê quem é que gosta mesmo do clube.

É nesse cenário que se encontram duas das maiores equipas portuguesas, Sporting de Braga e FC Porto. Apuradas para uma final europeia, decidida apenas através de um jogo, não existe o habitual direito a uma partida em casa de cada clube, neste caso em território nacional. Pelo contrário, as equipas vão ter de rumar a Dublin, na Irlanda, mas mesmo assim sabem que vão poder alinhar na partida decisiva com uma estratégia composta por 12 jogadores. Isto porque as claques também “empurram” a equipa para a frente.

Mas feitas melhor as contas, cada conjunto vai alinhar com 13 jogadores, na medida em que FC Porto e Sp. Braga levam, cada um, duas claques. Do lado portista, viajam os Super Dragões, com dois mil membros e o Colectivo 95, com 450. Pelos bracarenses vão “gritar” a Bracara Legion e os Ultra Red Boys, cada uma com cerca de 300 gargantas.

Pode concluir-se que a relação das “torcidas” com os clubes é igual à de um casamento, ou seja, apoiar na tristeza e na alegria, isto apesar de ambas as partes preferirem, na quarta-feira, apoiar na alegria. Porém, a certeza é de que as claques lá estarão. Para isso precisam de bilhetes e, segundo Fernando Madureira, líder dos Super Dragões, “neste tipo de jogos, existe sempre uma parte salvaguardada para a claque”, tendo em conta a função de apoio que têm no clube. Jorge Sousa, elemento da direcção do Colectivo 95, ressalva a maior facilidade ao nível da obtenção de “bilhetes a preços normais: 50 euros”. “Tudo o resto, temos de ser nós a contratar, como os voos charters e esse tipo de logística”, assinala Jorge Sousa.

Cântico de “guerra”

Desafiados pelo JPN a escolher um cântico para a final de Dublin, os membros das claques dos dois clubes portugueses optaram por dizer que todos os cânticos eram válidos para apoiar a equipa. Apesar disso, Fernando Madureira “cantou” aquela que escolheria como voz de apoio para quarta-feira.

Do lado arsenalista e, em específico, da Bracara Legion, fala Paulo Carvalho, que diz que a maior facilidade de obtenção dos ingressos para a final prende-se com “o maior contacto que [a claque] tem com as pessoas ligadas ao Sp, Braga”. Bruno Silva, membro da direcção dos Red Boys, refere que “agora ia ser muito complicado” obter os bilhetes. Por causa disso, o segredo esteve na antecipação da compra, que permitiu reunir o número de “bilhetes necessários”.

As outras paragens, com Dublin no horizonte

O sucesso desportivo de FC Porto e Sp. Braga ultrapassa fronteiras, não só no sentido mediático, mas também no literal e, por isso mesmo, as claques são “obrigadas”, muitas vezes, a usar o passaporte e a “carteira”. Em representação dos Super Dragões, Fernando Madureira diz que “as viagens mais dispendiosas são aquelas até à Rússia” (só esta época, foram duas – CSKA e Spartak de Moscovo). Jorge Sousa, do Colectivo 95 partilha da opinião.

Do lado da “odisseia” bracarense, Paulo Carvalho relembra o custo da viagem a Estocolmo, na Suécia, no jogo frente ao Hammarby: “Percorremos cerca de oito mil quilómetros de carrinha de nove lugares”, revela Carvalho. Pelos Red Boys, Bruno Silva destaca as viagens longínquas e dispendiosas à Ucrânia (Dínamo Kiev) e à Sérvia (Partizan Belgrado).

Segundo Bruno Silva e Paulo Carvalho, também foi em casa do Partizan que os Red Boys e a Bracara Legion mais dificuldade tiveram em apoiar a equipa, tal era o ambiente criado pelas claques adversárias. Nesse ponto, os Super Dragões sentiram-se “abafados” na Grécia e Turquia, sítios onde “o ambiente é muito intenso e os adeptos fazem muito barulho”, afirma Fernando Madureira. Nessas ocasiões, “é difícil para os jogadores” ouvirem a claque.

Contudo, no que diz respeito a um dos jogos mais marcantes para os Super Dragões, Colectivo 95, Bracara Legion e Red Boys, a opinião é unânime: Sevilha. No caso dos bracarenses, fala-se do playoff de apuramento para a Liga dos Campeões (Sevilha 3 – 4 Sp. Braga), ainda esta época. No caso dos portistas, fala-se da final da extinta Taça Uefa (agora Liga Europa) de 2003, naquela região espanhola, que ficou na memória dos portistas, porque “foi diferente em tudo”, confessa Jorge Sousa. “Pelo resultado, pelo ambiente”, completa Fernando Madureira. Comparando com a final de Dublin, os membros das claques “azuis-e-brancas” destacam a facilidade de logística que existia para Espanha e que não existe para Dublin. “Até se podia ir a pé”, brinca Madureira.

Nem que seja só do hotel, na Irlanda, para o Estádio, também a pé se pode entrar, quarta-feira, na Dublin Arena. Quem lá estiver, de pé ou sentado, vai poder assistir a coreografias preparadas em especial para a ocasião, pelas claques. “Vamos levar três lençóis gigantes para abrir na altura da entrada da equipa”, revela o líder dos Super Dragões que, no entanto, não revela o que lá vai estar escrito: “é surpresa”. Do Colectivo 95 saiu uma promessa: “vamos fazer umas coisas engraçadas”. Do lado minhoto, Paulo Carvalho, da Bracara Legion, revela uma aliança com os Red Boys: “vamos ter uma coreografia alusiva à final em conjunto com a outra claque do Braga”.