É arte contemporânea. Por isso, ninguém pode estar à espera de ver, desde 21 de Maio a 2 de Outubro, em Serralves, apenas quadros na parede, esculturas ou pinturas. Muito pelo contrário. Quem passar, durante esse período, pelo Museu de Arte Contemporânea, vai poder ver arte a caminhar e saltar fora das paredes.

O orgulho de Serralves

João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, revelou ao JPN o orgulho que tem nesta parceria com o museu Whitney. “Hoje, cada vez mais, torna-se importante a existência destas afinidades entre programas museológicos, que permitem documentar a arte do tempo em que vivemos, em várias latitudes e longitudes deste mundo”, completa João Fernandes.

A “culpa” é do Whitney Museum of American Art, de Nova Iorque, que conseguiu reunir na exposição “Off the Wall / Fora da Parede”, mais de cem obras de vários artistas, como Walter Gutman, Jack Goldstein ou Andy Warhol. De facto, uns com mais fama e outros com menos, mas todos com o destaque de serem diferentes em tudo. E isso é o que fica patente na exposição, através das “peças” que produziram: performances ao vivo e salas com filmes em simultâneo, de diferentes realizadores, são só dois dos vários exemplos da arte mostrada em Serralves.

“Off the Wall” expõe cinema, vídeo, som e actuações ao vivo na forma de obras de arte que fogem aos habituais veículos das mesmas. Isso fica claramente perceptível, a partir do momento em que, à entrada da exposição, se vislumbra um ringue de boxe. Trata-se do “palco” para uma das performances que a mostra vai incluir. O título é “Two Boxers” [Dois Pugilistas], da autoria de Jack Goldstein, em que se poderá assistir a uma encenação de um combate de sete minutos.

Na verdade, as artes performativas são uma constante de “Off the Wall”. A comissária da exposição, Chrissie Iles , disse ao JPN que, para os artistas mais recentes, é comum utilizar essa técnica, “visto quem no mundo actual, a geração mais jovem é muito mediada pela tecnologia” e a performance permite aproximar as pessoas em vez de as afastar. Próximas, mas também impressionadas ficaram as pessoas presentes na apresentação para a imprensa, quando uma peça da exposição as “desafiou” a descobrir uma silhueta humana. A verdade é que ela lá estava.

Um dos objectivos que o Whitney Museum of American Art consegue cumprir em Serralves é não mostrar arte aborrecida. Aliás, isso faz parte de uma das obras de John Baldessari presentes no espaço: “I Will Not Make Any More Boring Art” [Nunca mais farei arte aborrecida] passa despercebida ao longe, mas de perto torna-se possível perceber a obra de arte e o que está escrito ao longo de algumas paredes da galeria.

Viver na horizontalidade

Uma das maiores premissas de “Off the Wall” é, obviamente, sair das paredes. Chrissie Iles começa por explicar o conceito. “Nós posicionámo-nos de forma vertical num espaço composto por paredes verticais e chão horizontal”, diz. Uma ideia básica. No entanto, a comissária continua, ao dizer que “o objectivo dos artistas era questionar este pressuposto”. “Se somos verticais e o artista nos ‘obriga’ a olhar para o chão, em vez de para a parede, é algo muito dramático. Por isso, nesta exposição, o chão torna-se tão importante como a parede para mostrar arte. Existe horizontalidade em todo o lado”, confessa Chrissie Iles.

De facto, existe. O som de bater com portas é acompanhado por um vídeo nessa posição; o acto de pintar um quarto é filmado do tecto para o chão e até peças de arte são expostas no solo, para serem pisadas. Nesse lote de obras insere-se uma peça de Yoko Ono, viúva de John Lennon. Ainda para serem pisados existem vários jornais numa sala, ideia de Anthony McCall.

Também em termos de horizontalidade, destaca-se um vídeo de Bruce Nauman, intitulado “Bouncing in the Corner 1” [Ressaltando no Canto 1]. Chrissie Iles deu uma maior relevância a esta performance, porque “peças de arte como quadros ou pinturas não podem ser expostas nos cantos das divisões” e, como aquela pode, rompe com os costumes. Costumes esses que também são postos em causa na parte final de “Off the Wall”, reservada para performances pessoais de vários artistas, com os nus a receberem o destaque. “Marker Cones” [Cones de demarcação], de Jimmy DeSana, é um bom exemplo, mas um vídeo de striptease, apenas perceptível em fotografia, através de uma sequência de uma, duas ou três imagens, marca o auge desta fase da exposição.