Uma prancha, uma ligação especial com o mar e muito equilíbrio são os elementos indispensáveis para a prática do surf. Com cada vez mais fãs, para uns o surf é apenas um hobby, para outros mais do que isso. E há, também, aqueles que ainda estão a aprender a técnica e a incorporar a forma de estar de um surfista. A prancha é o veículo que os transporta para fora das suas rotinas mas, no seu quotidiano, está obrigatoriamente incluído o surf.

“É um pouco difícil de explicar o que sinto quando estou na água. Não é parecido com nada”. Pedro Trindade tem como profissão o fotojornalismo e como paixão o surf. Encontrámo-lo num dia chuvoso, mas isso não o impediu de dar uma “surfadazita”. “Como está hoje o mar, entramos três amigos na água e torna-se mais uma brincadeira. O espírito é diferente”. Mas nos dias que nascem para o surf, “com ondas grandes e boas”, Pedro está “muito mais concentrado”.

Mariana Macedo já participou em campeonatos de surf. “A mim sabe-me muito bem surfar”, conta a ex-atleta portuense, explicando que “se está em contacto com o mar, o que é óptimo”.

Mariana Macedo começou a surfar aos 14 anos, porque o seu irmão “disse que ia experimentar o surf e, como irmã mais nova”, Mariana queria fazer “tudo o que ele fazia”. “Gostei imenso”, conta. A surfista, agora com 21 anos, lembra que logo na primeira aula se conseguiu pôr de pé e “de cada vez que isso acontecia, parecia que estava a começar um desporto novo”. Já Pedro Trindade não é, nem nunca foi, profissional. “É uma vida engraçada mas nunca pensei muito nisso”, confessa. O fotojornalista começou a surfar aos 16 anos, influenciado pelo pessoal da escola que falava muito bem do desporto”.

As exigências de um desporto para relaxar

O surf conquista todos no momento em que colocam os pés na prancha. “Fiquei apaixonado”, revela Pedro Trindade. Francisco Morgado, da Associação Nacional de Surfistas explica que, “neste momento, é um desporto em plena ascensão e tem sido bem aceite”. Aliás, “é recorrente vermos famílias completas na praia a fazer surf, onde já encontrámos segundas ou mesmo terceiras gerações dentro de água”, refere.

Marcelo Martins, da escola de surf “Onda Pura“, explica que a idade de oito anos é a melhor para começar, pois “as crianças começam a ter autonomia física”. E não há idade limite para o surf. “Pode ser até aos 150 anos”, brinca o professor.

O tempo necessário para se tornar num verdadeiro surfista “depende das competências de cada um”. Mas Marcelo Martins refere que “entre as sete e as 14 aulas fica-se com noção das técnicas básicas e da leitura e utilização do mar em condições de segurança”. O início é, por vezes, complicado. “No princípio foi um pouco difícil, mas agora é mais fácil”, conta Leon, alemão de 10 anos, que começou a aprender a surfar em Portugal há um ano. O professor Marcelo Martins explica que, no começo, “alguns alunos pensam em desistir” devido a condicionantes físicas. “Há quem não se aproxime do estereótipo ideal e tenha dificuldades, como pessoas altas que têm o centro de gravidade mais afastado da prancha, o que aumenta o desequilíbrio”.

E a condição física é um factor muito importante. A surfista Mariana Macedo acredita que essa é “a base do surf” e explica que, no período em que competia, treinava de forma intensiva, com “ginásio sete vezes por semana, e dois desses treinos eram na piscina para complementar o surf”. Mas também a nível psicológico, o surf pode ser muito exigente. A pressão foi uma das razões que levaram Mariana Macedo a deixar as competições. “Nos campeonatos, o nervosismo era tanto que deixei de me sentir bem quando ia”. Por isso, refere a importância de “todos os profissionais de surf terem acompanhamento psicológico”.

E há ainda o aspecto financeiro. O dinheiro gasto em viagens, inscrições e competições é, por vezes, demasiado. “Ir a campeonatos é muito caro, principalmente quando são fora de Portugal“, explica Mariana Macedo. Daí que os patrocínios sejam “muito importantes neste e em quase todos os desportos” para se continuar a viver o sonho.

“Quando não faço surf falta qualquer coisa”

Mariana Macedo gostava de ter seguido uma carreira no surf. “Como comecei um pouco tarde”, explica, “já não valia a pena estar a investir, pois daqui a um ou dois anos já não estou a trabalhar”. Mesmo assim, não deixa de apanhar ondas.

E como peixe fora de água, o não surfar afecta de várias formas qualquer praticante deste desporto. Os surfistas consideram, tal como Mariana Macedo, que este é um desporto que “relaxa”. E Pedro Trindade explica que quando não faz surf “falta qualquer coisa”. “Estou mais nervoso, resmungo mais. Entrando no mar, fico mais relaxado”, conta o surfista que está habituado a “despender a energia”. “Se não, começo a acumular e chego ao fim da semana um pouco maldisposto”, refere.

Surfar elimina as preocupações pois, no momento de pegar na prancha, nada passa pela cabeça. “Eu não penso em muita coisa. Parece que se está desligado. Se tens um problema, na água isso desaparece completamente”, conta Pedro.

Para aproveitar e não deixar passar a melhor maré, o surf exige, por vezes, que se acorde muito cedo. Mariana Macedo levantava-se “às 6h30, 7h00 ou 8h00. Dependia do que tinha de fazer a seguir”. Agora que já não compete, acorda “às 8h30, 9h00”, fazendo surf mais de uma vez por dia, sempre que pode. Já Pedro Trindade reconhece que tem “muita sorte” por conseguir conciliar o surf com o emprego e “poder ir à praia praticamente todos os dias”. “Se as condições estiverem mesmo boas, às 6h00 da manhã” Pedro Trindade já está acordado e, por mais ocupado que seja o dia, o fotojornalista tenta “sempre encontrar tempo, nem que tenha de correr”. “Prefiro isso do que não ir para a água”, confessa. O surf é, assim, “um estilo de vida muito próprio e saudável”, como afirma Francisco Morgado.