A abstenção, votos nulos e votos em branco bateram recordes nas últimas eleições. Os portugueses não têm vontade de ir às urnas e perderam a confiança nos políticos que os representam. Os eleitores estão a viver uma crise de representatividade política.

“Se a seriedade e a credibilidade do sistema político fosse a norma” e “se as promessas fossem cumpridas” esta crise poderia ser evitada, afirma o sociólogo João Teixeira Lopes, ao JPN.

O professor universitário não tem dúvidas de que as pessoas “estão descontentes com quem os representa”. Os portugueses não se revêem no sistema político nem acreditam que “os seus interesses e necessidades” são ouvidos por quem elegem para os representar. “Se essa crença está posta em causa, o próprio sistema político está posto em causa”, adverte o docente.

Para contrariar esta crise de representatividade, Teixeira Lopes aponta algumas soluções. Os “orçamentos participativos”, não só os feitos pelas autarquias, mas até o próprio orçamento de Estado, que tivessem em conta as sugestões das populações, seriam orçamentos “mais capazes de representar as pessoas”.

Deputados “mais próximos das pessoas”, políticos com “preocupações mais terrenas” e que “não vivessem no seu próprio mundo”, são outros dos conselhos do sociólogo para os futuros governantes.

Os partidos do arco governativo, nomeadamente PS e PSD, são os mais afectados pela crise da representatividade, diz Teixeira Lopes. “Estão lá há muito tempo, a mudança de governo não significou a mudança de políticas”, explica. Existe “alternância sem alternativa”, afirma o professor, e “o rotativismo descredibiliza quem lá está”.

O sociólogo alerta, ainda, para o perigo da descrença nos representantes políticos e do crescente desinteresse dos portugueses na política nacional. “As pessoas não se podem sentir distantes do poder” porque é “mortífero para a democracia”, remata.