O curso de Estudos Portugueses e Lusófonos (EPL) existe há relativamente pouco tempo, fruto de reformulação. Leccionado na Faculdade de Letras (FLUP), é um dos que abre menos vagas na Universidade do Porto (UP). Maria João Barbosa é aluna do último ano e já tinha definido desde cedo que esta era a área que queria estudar.

“O facto de gostar também de outras áreas, e dessas áreas, à partida, poderem constituir um projecto futuro mais aliciante, fez com que as pessoas que me estão mais próximas, mesmo alguns professores, me tentassem orientar noutro sentido”, conta. Mas a estudante não deu ouvidos. “Se tenho oportunidade de ingressar no curso que quero e se tenho tido os meios para isso, acho que devo aproveitar”, afirma.

A estudante nota, no entanto, que há muitas pessoas que entram em EPL porque não conseguiram entrar noutros cursos, o que faz com que entrem “sem objectivos”. Mas poucos conseguem acabar a licenciatura. Maria João Barbosa garante que é um curso “bastante exigente” e que obriga a ter “espírito crítico”.

“Acho que o problema é que as pessoas têm ideia de que não é preciso trabalhar. Acham que basta ler meia dúzia de coisas, basta escrever umas quantas páginas. E não é isso que acontece”, explica. “É preciso um trabalho contínuo. Só aconselho a quem quiser trabalhar e quem tiver gosto nesta área”, diz.

A estudante nota, também, que é frequente a associação entre os cursos de Letras e o insucesso. Mas, para Maria João Barbosa, o sucesso é uma “questão de esforço, dedicação, empenho e rigor”. E acrescenta: “Não faz sentido ir para uma área que, à partida, me abrirá mais portas se não me sentir realizada em termos pessoais”.

A estudante lembra que, normalmente, se pensa que cursos como Estudos Portugueses e Lusófonos e Ciências da Linguagem só têm saída no ensino. Mas essa não é a única opção. Antes de mais, o curso “abre o mercado de trabalho para qualquer país que tenha o português como língua oficial”, esclarece.

Existe, também, a possibilidade de enveredar pela investigação. Neste momento, a estudante encontra-se dividida. Por um lado, sempre sonhou com o ensino da língua portuguesa. “Por outro lado, o próprio curso em si, pelo rigor que tem, pelo trabalho que tenho desenvolvido, acaba por me abrir a porta à investigação”, afirma.

Para já, Maria João Barbosa vai fazer mestrado, embora não saiba, ainda, qual vai escolher. Não se vê a sair de Portugal permanentemente. “Ainda tenho esperança de que vai haver um espaço para mim no mercado de trabalho”, desabafa.

Química tem a média mais baixa da UP

Margarida Linhares é estudante de Química, o curso com a média mais baixa da UP, segundos dados da primeira fase de acesso ao Ensino Superior, em 2010. Mesmo assim, não houve ninguém que a tentasse convencer a não entrar no curso. “Os meus pais sabiam que eu tinha jeito para a Química e só queriam que fizesse o que gostava”, conta.

O facto de o curso ter a média mais baixa da UP desvaloriza-o de alguma forma. Pelo menos, essa é a opinião de Margarida Linhares. “As pessoas que entram são as pessoas que não entram em mais nenhum lado. Ou seja, não gostam de estar cá”, esclarece. A estudante conhece alunos que entraram no curso em quinta opção e que acabam por ficar, em vez de desistirem. “E as outras pessoas, que gostavam mesmo de aprender, acabam por sair penalizadas”, acrescenta.

A estudante da Faculdade de Ciências não considera que o curso tenha um bom plano de estudos e acha que isso se deve ao Tratado de Bolonha. Quando compara com colegas que entraram antes da implementação do Tratado, percebe que a sua formação é “muito menor”. Por isso, classifica o curso como “um secundário complementar: falta exigência e o empenho é menor”.

Apesar de tudo, a estudante aconselha o curso a outras pessoas. “Em termos de investigação e laboratório, os professores são bastante bons”, garante. Para já, a estudante vai um ano de Erasmus para Barcelona. Depois, quer fazer um doutoramento misto [em Portugal e talvez na Holanda]. Como Margarida Linhares tem boa média, espera conseguir um emprego em Portugal, mas não se importava de fazer investigação ou ir para o estrangeiro.