“O Demo.cratica é um repositório de informação sobre a Assembleia da República (AR), reunindo informação oficial acerca dos deputados e transcrições das sessões plenárias da AR”. É assim que Ricardo Lafuente, um dos fundadores do projecto, descreve o Demo.cratica, uma “ferramenta” que disponibiliza um “acesso fácil, livre e directo” à informação da AR.
Ricardo Lafuente salienta a relevância do acesso a qualquer informação originária do Parlamento, pelo que sentiram a necessidade de embarcar no “desafio de construir” uma ferramenta que disponibilizasse essa informação e que resolvesse “o complexo problema de organizar e mostrar, de uma forma clara e directa, toda a informação”.
A plataforma, lançada este sábado, 21 de Maio, assenta, sobretudo, numa ideia de liberdade, respeitando três princípios: o livre acesso sem restrições, software livre e neutralidade.
Em primeiro lugar, o Demo.cratica pretende não ter quaisquer restrições a todos os cidadãos que acedam à plataforma, sem necessidade de qualquer pagamento, permanecendo “aberto e livre” pois os responsáveis gostariam que “fosse um recurso usado pelo maior número de pessoas e instituições”.
Além disso, Ricardo Lafuente refere “a liberdade das ferramentas” usadas e criadas, já que o software através do qual o projecto foi elaborado é livre, assim como o software do código-fonte da plataforma, possibilitando, assim, “o estudo, a modificação e redistribuição” da informação recolhida.
Por ultimo, à excepção da “redacção e remoção de elementos secundários das transcrições”, os responsáveis não editam nem alteram os conteúdos publicados.
Uma necessidade convertida numa ideia concretizada
A plataforma foi criada por Ana Carvalho e Ricardo Lafuente, que participam no Transparência Hackday, “uma iniciativa que possibilita o encontro de pessoas interessadas em dados abertos”. O Demo.cratica conta, ainda, com o trabalho de José Monteiro, da Unimos, “uma associação dedicada ao desenvolvimento, investigação e implementação de redes sem-fios comunitárias”. O projecto resulta de um trabalho de nove meses que começou com o Open Data Hackathon, um “evento mundial onde várias pessoas se reúnem para libertar e trabalhar com a informação pública”, explica Ricardo Lafuente.
O projecto, que começou apenas com trinta euros e que tem, actualmente, segundo os responsáveis pelo Demo.cratica, um valor estimado não inferior a 50 mil euros, está, ainda, uma versão beta. Com o grande objectivo de fazer a recolha, o processamento e a disponibilização das transcrições da Assembleia da República desde 1976, ainda há trabalho pela frente. Para Setembro está já prevista a versão ‘1.0’, com a plataforma a acompanhar permanentemente a XII Legislatura.
Ricardo Lafuente sublinha que é importante colmatar esta necessidade que considerava existir. “A informação sobre o Parlamento é interessantíssima, mas a dificuldade em aceder a ela era um problema real”, asserta o responsável, afirmando que queriam “ter uma ferramenta assim e não existia nada do género”.
“É mais directo e fácil explorar um site do que assistir ao Canal Parlamento”
Segundo Ricardo Lafuente, os responsáveis pelo Demo.cratica aperceberam-se de que “este género de projecto não é apetecível para uma empresa ou mesmo para o próprio Estado”. E o responsável espera que o projecto provoque uma alteração na atitude do Estado e o desperte “para a necessidade de disponibilização da informação pública em formatos abertos”.
Aliás, para os fundadores do Demo.cratica, nenhum “dos meios existentes cumprem inteiramente a necessidade de informação por parte da população” e Ricardo Lafluente dá o exemplo de que, “para ter uma noção geral de uma sessão parlamentar, é mais directo e fácil explorar um site do que assistir ao Canal Parlamento“. Sem querer apontar o dedo, esta necessidade existente inclui a comunicação social, pois os fundadores consideram que “as notícias de política são muitas vezes condensadas à volta de ‘soundbytes’, em vez de análises mais cuidadas sobre as ideias expostas”.
E daí a criação deste projecto. “Com o Demo.cratica, a pesquisa e a fácil navegação permitem um acompanhamento profundo e objectivo do que se passa na Assembleia”, garante o fundador, acrescentando que a plataforma “procurará cumprir uma função pedagógica e histórica ao permitir o acesso directo a registos mais antigos”.
Assim, a plataforma pode ser útil para muitas pessoas, de diferentes idades e profissões. Ricardo Lafuente afirma que os responsáveis pela plataforma não são “os únicos” que sempre quiseram ter uma ferramenta destas à disposição e que “os próprios deputados, idealmente, também seriam potenciais utilizadores do site”. O responsável acredita que “a exploração do Demo.cratica e das sessões parlamentares passadas pode ser uma experiência fascinante, em vez de aborrecida”. Procurando tornar tudo “o menos complicado e mais directo possível”, para o responsável só falta algo essencial: “aproximar as pessoas da informação”.