Trabalha várias horas por semana mas tudo depende do volume de trabalho. “Se tiver tudo arrumado, sem julgamentos e sem receber clientes, trabalho entre 20 e 25 horas” por semana. “Com julgamentos e recursos”, o volume de trabalho chega às 45 horas semanais. Quem o diz é Pedro Vasconcelos, um advogado de 33 anos.

Workaholic? Define-se como um. “Estou sempre a trabalhar, sempre a pensar nos casos, mesmo a dormir ou a treinar, às refeições, nos tempos livres”, confessa. “Posso receber chamadas de clientes a todo a hora”. Actualmente, “não tenho horário de trabalho”, conta.

Apesar de trabalhar por conta própria, o advogado admite que, se tivesse colegas de trabalho, “teria problemas” em delegar-lhes funções. Competitivo? “Muito, não gosto de perder”, admite.

Na opinião do advogado, um trabalhador compulsivo tem total “disponibilidade para o emprego”, está “sempre no local de trabalho” e “vive para o trabalho”, desligando-se “da família e dos amigos”. Pedro Vasconcelos encaixa-se no perfil de um workaholic, uma vez que tem “disponibilidade para os clientes, maior e mais intensa aprendizagem das matérias em apreço”, logo, “maior competência” na profissão que exerce.

Perfil de um workaholic

Um workaholic ou trabalhador compulsivo trabalha de forma exagerada, não respeitando muitas vezes os horários para descanso, lazer e refeições. O trabalhador compulsivo “é um cidadão que deixa de viver todos os outros pilares da sua existência, como os amigos, a família, as relações amorosas e os hobbies“, como afirma Victor Cláudio, do Instituto Superior Psicologia Aplicada (ISPA). Para estes sujeitos, o trabalho está quase sempre no topo da lista de prioridades e a motivação está presente em todas as tarefas. O stress é, muitas vezes, causado pelo espírito competitivo e pela vontade de vencer.

Enquanto isso, a vida pessoal sofre algumas alterações como o “sono irregular”, a falta de tempo “para relações amorosas”, os “conflitos de horários com familiares”, a solidão e a “impaciência com perdas de tempo”.

Ainda assim, Pedro sente-se bem mentalmente com a sua atitude perante o trabalho. A nível físico, todos estes excessos têm “as suas consequências”. O advogado não considera o trabalho compulsivo um erro, desde que seja realizado “com bom senso”.

O gosto pela profissão nasce cedo

É estudante e actualmente, estagia num órgão de comunicação social. Filipa Rua tem 21 anos e deveria trabalhar sete horas por dia, numa média de 35 por semana. Mas tal não acontece. “Normalmente trabalho pelo menos mais dez horas do que devia, ou seja umas 45 por semana”. “Respeito a hora de entrada, mas muito raramente saio a horas”, observa. Ao fim-de-semana, Filipa faz alguns trabalhos como promotora que, no mínimo, ocupam quatro horas no dia da estudante.

A quantidade de trabalho conduz a uma alteração do horário das refeições. “Comer qualquer coisa em frente ao computador, não almoçar ou jantar às duas da manhã” já são hábitos adquiridos pela jovem.

Sou “alguém que gosta do que faz e, como tal, não me importo de abdicar de certas coisas em prol do trabalho”, diz. Não se considera inserida no perfil de um trabalhador compulsivo, uma vez que pensa não haver “um perfil estipulado”. “Têm que ser pessoas que gostam do que fazem” e que tenham “uma grande capacidade de trabalho e concentração”.

Trabalhar em grupo não é um problema para a jovem, se os colegas acompanharem o seu ritmo de trabalho. “Se assim não for, então prefiro fazê-lo sozinha”, confessa. No entanto, a jovem admite que, “nos trabalhos de grupo, mesmo que involuntariamente, assume uma posição de liderança. “Gosto de coordenar e o produto final tem sempre que passar pelas minhas mãos”, diz.

E o que acontece à vida pessoal? “O inevitável: menos tempo para a família e para os amigos que, verdade seja dita, muitas vezes manifestam o seu desagrado”. Pratica ballet desde os quatro anos e, desde que começou a trabalhar, deixou de o fazer “assiduamente”. Exige tempo e disponibilidade “o que, devido aos meus horários, é algo de que não possuo”, conta Filipa. “Não desisti, mas neste momento é um projecto adiado”, remata.

Trabalha mais do que deve mas encontra vantagens na atitude que tem perante a profissão. “Mais produtividade” e, “consequentemente, realização pessoal”. Sente-se bem com o que faz e fá-lo “por vontade própria”, até porque não obtém “qualquer tipo de recompensa material”.

“Enquanto me sentir com capacidade para trabalhar desta forma, irei fazê-lo. Não me considero uma pessoa doente, nem viciada”, diz Filipa, considerando que desde que haja equilíbrio e estabilidade tudo funciona em pleno, “mesmo trabalhando mais e durante mais tempo”.