Logo após o arranque da campanha eleitoral, o JPN apresenta “nuvens de palavras” com os termos mais utilizados nos programas eleitorais dos partidos com assento parlamentar. Dois professores de Ciência Política interpretam o resultado.

Na análise da “nuvem de palavras” geral denota-se que todos os partidos remetem para a actual situação de crise económica, e consequentemente social, que o país atravessa. “Embora algumas palavras sejam neutras ou possam ter sentidos opostos (“Estado” pode significar mais ou menos Estado), está muito presente o “trabalho”, facto a que não será estranho o elevado índice de desemprego”, interpreta José Palmeira, professor de Ciência Política na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.

O docente considera que “não há propriamente surpresa nas palavras-chave apresentadas”. Em períodos eleitorais, a mensagem partidária adopta uma componente demagógica, pois o “eleitorado que decide uma eleição” é “maioritariamente moderado (central)”.

Luísa Neto, professora de ciência política da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, também analisou as “nuvens de palavras” dos diversos partidos. De acordo com a professora, “parece óbvio que, no caso dos programas do PSD, PS e CDS-PP, as linhas de orientação se revelam mais esbatidas e compromissórias, ao passo que as relativas ao BE e CDU traduzem a pujança de directrizes programáticas de forte ideologia, parecendo sobrelevar um objectivo de doutrinação e propaganda”.

“Conclusões curiosas”

A análise das “nuvens de palavras” de cada um dos partidos permite tirar conclusões “curiosas”.

A CDU, coligação de dois partidos de esquerda, e o CDS, um partido de direita, apresentam palavras semelhantes nas suas propostas eleitorais. “Política”, “trabalho”, “trabalhadores” e “direitos” aparecem evidenciados em ambos, “embora o significado que cada um dá à mesma palavra possa ser diferente”, alerta José Palmeira.

O mesmo acontece com a referência ao “Estado” nos documentos de PSD e BE sendo que, refere o professor, “o PSD tem defendido menos intervenção do Estado na economia e o BE o oposto”. Porém, nem sempre as palavras usadas reflectem a linha ideológica dos partidos, constata. “Muitas vezes, um partido procura mostrar o oposto daquilo que é (ou da imagem que as pessoas têm dele) para modificar a sua imagem junto dos eleitores-alvo”.

PS é o mais optimista

Na opinião de José Palmeira, “o PS parece o partido mais optimista, até para justificar os resultados da sua governação”.

Os restantes partidos, na análise do docente, “parecem balançar entre o discurso da crise e o optimismo em relação ao efeito das suas medidas para ultrapassar a mesma”. Esta dicotomia dos partidos da oposição é normal em tempo de campanha eleitoral, explica José Palmeira.

Por um lado, sublinham “as dificuldades para justificar a necessidade de mudar de Governo” mas, ao mesmo tempo, tentam “incutir a esperança de que melhores dias virão” caso os eleitores votem neles.

“É sabido que o eleitorado costuma valorizar quem lhe incute esperança”. Como tal, remata o especialista, “o discurso partidário é tendencialmente optimista quando projecta o futuro”.