Foram-no por um dia, mas podiam-no ter sido por mais, tal o à vontade com que desempenharam a função de deputados. Esta quinta-feira, Rui Rio recebeu cerca de 30 alunos de oito escolas do Ensino Básico (EB) do Porto, que participaram num debate sobre temas ligados à cidade.

“Políticos por um dia” era o nome da actividade curricular, em parceria com o município, que levou à Câmara Municipal do Porto (CMP) as turmas das EB 1 da Lomba, de Augusto Lessa, das Condominhas, de S. João de Deus, de Montebello, de Costa Cabral, do Cerco do Porto e do Centro Escolar das Antas. O objectivo, por sua vez, era fazer com que as crianças percebessem melhor o funcionamento de uma Assembleia Municipal, a política e, por fim, a democracia. Pelo meio, discutiam questões ligadas à cidade e às suas escolas.

No entanto, os “mini-deputados” aparentavam não ter nada a aprender, tendo em conta a competência com que desempenharam as suas funções. Prova disso mesmo foi a moderação do debate, levada a cabo pela “presidente da Assembleia”, Mariana Silva, que se destacou logo desde a abertura da sessão.

Com todos os pormenores preparados e funções atribuídas, os “deputados” começaram a tomar a palavra e a apresentar as suas soluções para determinados problemas. O primeiro versou sobre o urbanismo, em específico, a questão das casas abandonadas e dos graffiti. “Na minha opinião, para melhorar a cidade, teremos de torná-la bonita e barata para os seus habitantes. Em relação aos monumentos destruídos e com graffiti, devemos colocar mais vigilância, como câmaras, polícias ou sensores”, sugeriu um “deputado”.

As propostas continuaram a ecoar na sala de sessões da CMP e, no fim, cabia à “presidente da Assembleia” apurar as votações.

A comida e a política “trocada por miúdos”

O seguinte tema trazido a debate parecia suscitar muita expectativa. Tratava-se da questão das refeições nas cantinas escolares. “Acho que os alunos deviam poder votar e dar opinião nas ementas”, disse, de forma tímida, uma das crianças. Um outro “mini-deputado”, com uma sugestão mais elaborada, propôs a confecção de pratos de diferentes países, todas as semanas, nas escolas. Rui Rio não conseguia conter o sorriso.

Outra coisa que o presidente da CMP não conseguia conter eram as respostas às questões “urgentes” que provinham do lado “mais jovem” da sala. “O que é a melhor coisa em ser político?”, perguntava uma das crianças. “É o facto de poder intervir, mais directamente, no melhoramento do país ou da cidade”, respondia Rio.

Outra pergunta impunha-se e não tardou: “é muito difícil?”. O autarca respondeu que algumas coisas eram mais difíceis do que outras, e até deu um exemplo: “no caso dos graffiti, se eu quisesse contratar cem pessoas para limpar as paredes, seria difícil, porque não há dinheiro para tudo”. A última questão iria deixar no ar uma espécie de imagem que as crianças têm da política, na medida em que um “deputado” perguntou se aquilo que tinha sido discutido e aprovado na Assembleia iria mesmo acontecer.

Mais tarde, aos jornalistas, Rui Rio confessou que as notícias acabam por passar uma má imagem dos políticos. Talvez por causa disso, ou não, e apesar de até ter levado gravata para a CMP, Elton prefere seguir a carreira de futebolista. No que diz respeito à medida apresentada no debate que mais gostaria de ver aprovada, o jovem foi claro: “aquela da cozinha de vários países”. E quando desafiado a escolher um prato que estivesse todas as semanas nas ementas das cantinas, Elton não poderia ter feito uma outra escolha tão portuense e estrangeira ao mesmo tempo: francesinha.