A 15 de Abril de 1989, milhares de cidadãos saíram às ruas chinesas em marchas pacíficas de protesto. O movimento pró-democracia era liderado por estudantes, mas muitos mais levantavam a voz contra a República Popular da China, o seu governo liderado pelo Partido Comunista e as actuações do mesmo que acreditavam serem repressivas, corruptas e más para o país. A praça de Tiananmen, em Pequim, foi um dos palcos que recebeu os protestantes.
Mas vozes e os gestos dos manifestantes acabariam por ser reprimidos. A 3 e 4 de Junho de 1989, a praça de Tiananmen foi invadida por membros do exército que oprimiram o protesto, disparando sobre os manifestantes. No massacre de Tiananmen, entre sete a dez mil pessoas ficaram feridas e centenas foram assassinadas, mas a Amnistia Internacional (AI) fala na possibilidade de terem havido milhares de mortos.
A AI quer continuar a lembrar esta data, não só pelo que significou há 22 anos, mas pelo facto de, 22 anos passados, “os padrões de repressão” continuarem a existir. Para a Amnistia Internacional – Portugal (AI – Portugal), “as tácticas brutais e a repressão que se seguiu” em Junho de 1989 “não são apenas história”. “São uma ferramenta” ainda utilizada para “suprimir qualquer possibilidade de desafio ao monopólio do poder do Partido Comunista da China”. E o contínuo abafar das vozes de protesto “enfraquece frequentemente as liberdades de expressão, de associação e de reunião consagradas na própria Constituição chinesa”, garante.
Assim, a AI chama a atenção para o facto de o governo chinês nunca ter revelado informações sobre o Massacre de Tiananmen, ignorando “os apelos” a uma “investigação aberta e honesta ao que aconteceu”. De acordo com a AI – Portugal, a China forneceu, recentemente, acesso aos arquivos secretos nacionais, “mas justificou manter em segredo documentos históricos acerca da Praça de Tiananmen”, e sobre “outros ‘distúrbios desagradáveis”, com o “receio de causar danos à ‘reputação’ ou ‘privacidade’ de alguém”, refere a AI – Portugal.
Para sempre fica algo que nem o governo da República Popular da China pode apagar: a imagem de um rapaz, a 5 de Junho, à frente dos tanques do exército, numa luta desigual. Esta imagem fez capa de jornais de todo o Mundo, e tornou-se o símbolo de uma luta que aconteceu, não só em 1989, mas que, para muitos, ainda hoje existe.
Segundo a AI, desde finais de Fevereiro de 2011 que, na China, mais de 130 pessoas foram presas, “sujeitas a monitorização e intimidação pelas forças de segurança” ou, então, “desapareceram”. Entre elas, estão activistas, bloggers, advogados e até alguns dos participantes do movimento democrático estudantil de 1989. Liu Xiaobo é um desses exemplos. Vencedor do prémio Nobel da Paz em 2011 por ser um dos autores do manifesto político que apela a uma reforma pacífica da política chinesa, a “Carta 08”, este professor e poeta, que também esteve presente no movimento pró-democracia de 1989, foi condenado, em 2009, a 11 anos de prisão por “incitação à subversão”, segundo o governo chinês.