Muitos podem associar a pintura corporal a tribos ou índios. E a verdade é que estes continuam a utilizá-la, mantendo viva uma das tradições mais antigas. Mas a pintura corporal, bodypainting, é hoje para muitos uma forma de arte. São cada vez mais os artistas que exploraram o corpo humano em forma de tela, pincelando sobre a pele um mundo de cores e vida.

Este mundo pode ser descoberto no Festival Mundial de Bodypainting, o maior festival dedicado a esta forma de arte. Alex Barendregt, criador do evento, conta que, no início da espécie humana, “a forma de arte consistia em decorar o corpo para mostrar a ligação com a própria tribo. A ideia básica não mudou até agora”. O organizador explica que as técnicas e os produtos usados actualmente nesta arte sofreram grandes alterações, sendo que os artistas têm “mais opções para serem ainda mais criativos”, pois a vontade continua a ser a mesma. “Queremos expressar os nossos sentimentos através da cor e das acções”, conta Barendregt.

O trabalho colorido de Pedro Ildo

Pedro Ildo é um desses artistas que procura expressar-se através do bodypainting, tendo esta arte como profissão. Já era artista antes de descobrir o bodypainting e desde miúdo que foi incentivado pelos pais a nível cultural e nas artes plásticas. O talento de Pedro Ildo ficava marcado nas folhas e nos papéis. Mais tarde, estes foram trocados pelas pinturas no corpo. Mas o bodypainting não surgiu por acaso na vida de Pedro Ildo. “Fui a uma discoteca e estava lá um miúdo a fazer face painting”, conta Pedro. “Ele perguntou-me se queria ajudar e como já pintava, aceitei. Fiz uma borboleta e, de repente, saí-me bem”, recorda.

Esta descoberta foi feita há oito anos. Depois de estar provado o talento para o bodypainting, surgiram convites e Pedro Ildo começou a pensar “num percurso profissional” nesta arte.

Se hoje em dia esta é uma arte reconhecida, em 2003 o bodypainting passava despercebido, apesar das fortes cores e de toda a performance que lhe estão associadas. Pedro Ildo não procurou formação, não porque não havia, mas antes porque esta é uma arte de intuição. “Já pintava e tinha alguma facilidade”, explica o artista. “Esta arte é como a caricatura. Onde vamos procurar formação para a caricatura? Faz-se caricatura e pronto”, afirma. Para Pedro, “se se for para uma universidade, tem-se formação técnica, mas a caricatura tem a ver com o ‘feeling’. Conheço quem sabe fazer um retrato e desenhe muito bem, mas não consegue fazer uma caricatura”. E o mesmo acontece com o bodypainting.

O artista de bodypainting também é profissional na área da caracterização e considera que “as duas áreas estão interligadas”. Pedro Ildo começou a “fazer bodypainting e a desenvolver técnicas a nível de caracterização”, para a qual procurou ter formação.

A arte de apreciar o Bodypainting

O bodypainting é uma arte cada vez mais aceite e mais reconhecida. Mas o facto de estar associado a uma certa nudez, torna-se, por vezes, um entrave. Para Pedro Ildo, o preconceito e a atitude de negação face ao bodypainting é esquecido quando o trabalho é bem executado. “Se um bodypainting for algo mal feito e não dê nas vistas torna-se ridículo”, refere o artista, “e os modelos sentem-se mal, principalmente quando a modelo é feminina, porque quem olha são sobretudo os homens e mandam ‘bocas'”. Já “quando um bodypainting é bonito e dá nas vistas”, Pedro acredita que “as pessoas admiram. É bom tanto para a modelo como para o público, por mais brincalhão que este seja. Quem vê percebe que é arte e respeita”, remata.

O percurso para o reconhecimento do artista e da arte foi talhado por obstáculos, um dos quais o próprio país. Portugal não tem uma tradição neste tipo de arte e Pedro Ildo viu-se isolado.

Mas, mesmo assim, o artista não desiste e tem um único objectivo. “Quando o artista de bodypainting quer chegar ao topo, sonha poder representar o país” e o português sonhou representar Portugal no World Bodypainting Festival , o maior festival internacional desta arte. Pedro Ildo foi, até agora, o único artista a levar as cores portuguesas ao evento. Pedro Ildo não chegou a participar na edição que teve lugar na Coreia do Sul, mas viveu um turbilhão na competição na Áustria, dois anos mais tarde. “Arrisquei, fui sem patrocínios e tive muitas dificuldades. Consegui fazer uma apresentação, mas não cheguei ao fim”, explica. Pedro Ildo não vai este ano, mas o objectivo já está traçado. “Quero participar em 2012”, remata.