Foi há oito anos que Pedro Ildo descobriu o talento para o bodypainting e desde então nunca mais parou. As cores das tintas que utiliza para marcar o corpo de cada modelo são a forma que o artista encontra para se expressar. Mas este também é um negócio e Pedro Ildo tenta encontrar uma harmonia entre o desejo do cliente e o conhecimento do artista.

“Eu sou contratado para dar nas vistas, chamar a atenção de um público porque, ao vivo, o bodypainting é uma performance“, explica. Desde que decidiu escolher o bodypainting como profissão, Pedro tem trabalhado sobretudo com empresas. “E já fui contratado por marcas”, refere o artista, pois “um corpo chama a atenção. No fundo, está-se a usar o corpo como meio publicitário”, revela. Mas o trabalho de Pedro Ildo vai mais além. “Já pintei para Estatuísmo, isto é, estátuas vivas, e já fiz para desfiles de moda. É tudo dentro dessas temáticas”, explica o artista.

Ao contrário de outras artes, que de alguma forma estão relacionadas ou com a pintura ou com o corpo, o bodypainting não exige um local próprio. “Já pensei abrir um espaço”, conta Pedro Ildo, revelando que está a “montar um ateliê de caracterização”. Mas como o trabalho de bodypainting é ligado a empresas, o artista tem “locais específicos, como eventos”, e ter o espaço pode não ser o mais importante. Para Pedro, “o mais importante é ter as técnicas e o conhecimento, para poder ir a Lisboa ou a Madrid e executar o trabalho pretendido”. Assim, este difere, por exemplo, de um tatuador que precisa de um espaço. “As pessoas vão lá. Já eu vou ao local, monto as minhas coisas e estou ali para trabalhar”, compara o artista.

Horas para conseguir uma transformação radical

Pedro Ildo pode ser contratado para pintar só uma parte específica do corpo, como a cara, ou o corpo todo. O artista revela que tem preferência pelo corpo inteiro. No entanto, não costuma fazê-lo. Por isso, “se os clientes pedem a cara ou as mãos”, Pedro Ildo tenta “pintar mais alguma coisa para complementar”.

O artista já pintou sobre os mais variados temas, transformando as pessoas em coisas, por vezes, até de outro mundo. Um dos projectos favoritos de Pedro, “talvez pela paixão por extra-terrestres”, foi “um trabalho relacionado com E.T., de há cinco anos, que tinha uma mistura de bodypainting e caracterização”. Hoje, “como o bodypainting é conhecido, as pessoas conseguem ser mais específicas” nos temas pedidos. Mas, de início, os clientes “quase nunca” tinham algo definido previamente e para Pedro Ildo era difícil, “porque pode-se pintar tudo e, por vezes, perde-se um pouco quando não se tem uma referência”. “Acabava sempre por improvisar”, conta.

Dependendo do trabalho pretendido, “pode-se demorar quatro horas para fazer uma pintura”. E de acordo com o tempo passado a transformar um corpo humano em algo diferente e com o “número de empresas que são subcontratadas”, “o bodypainting pode ter vários preços”. “Esse cachet pode ser de 200, 250, até 400 euros”, refere Pedro, mas “o preço final oscila muito”, explica.

Além de um trabalho demorado, um artista tem perante si uma tela diferente de todas as outras.”Normalmente tem-se uma tela que não se mexe e é plana”, explica Pedro Ildo. “Nós dominamos a tela”. O corpo humano, quando está a ser pintado, “também é uma tela, só que é uma tela que mexe, que tem formas e que durante um curto espaço de tempo consegue ajudar o artista, mas que depois se torna difícil, porque o bodypainting demora muito tempo”, refere Pedro Ildo. “De início é muito complicado pintar”, confessa o artista português, “mas com o tempo vai-se habituando”, assegura.

Material a usar: Tela humana, tintas e um aerógrafo (ou a mão)

O material para um artista de bodypainting é, na sua essência, muito semelhante a de outro artista qualquer. É apenas preciso uma tela, tinta e algo para aplicar a tinta.

A tela é o modelo. Pedro explica que os modelos “são, muitas vezes, pessoas que têm à vontade com o corpo, trabalham para eventos e outro tipo de situações”. Mas “quem faz moda não quer dizer que faça de modelo de bodypainting“, e Pedro Ildo já passou por más experiências em que os modelos inicialmente previstos desistem do trabalho no momento menos oportuno.

Mesmo assim, o artista português conta que, “hoje, esta situação mudou muito”, e se “há quatro anos” Pedro procurava “pessoas para fazer um trabalho de estúdio que se idealiza”, hoje o artista não consegue pintar todas as pessoas que gostariam de ser pintadas. “Já não é uma coisa esquisita, não há tabu. É uma arte”, sublinha.

As tintas são outro ponto que figura na lista do material que um artista precisa. Pedro garante que, desde que começou no bodypainting, usa “as melhores tintas do mercado”. Estas são tintas sem produtos químicos, que saem com água, sendo, “no fundo, cremes coloridos”. Este pode ser um trabalho frágil, “mas isto é a pensar na pele do ou da modelo, pois não está nos planos existir um modelo que tenha uma alergia”, explica o artista, salientando a necessidade de “ter algum cuidado”.

Já o material utilizado para aplicar a tinta pode variar. Desde o início que Pedro Ildo trabalha com o aerógrafo, “uma pistola pequena, que parece uma máquina de tatuar”. Pedro conta que, “na altura, não existiam tintas para essa máquina” e, por isso, teve de a adaptar. “Dizem que fui o primeiro”. O artista português ainda utiliza esta técnica, mas admite que “se for preciso pintar um corpo quase todo de uma cor, para evitar perder meia hora”, suja as mãos e faz o trabalho “em cinco minutos”. Contudo, esta não é a forma de trabalho que mais aprecia.

Qualquer que seja a técnica utilizada, apesar das muitas horas necessárias e do dinheiro que envolve, o bodypainting é uma das paixões de Pedro Ildo, deixando transparecer nas pinturas feitas em corpos o mundo de imaginação que vive no interior deste artista.

Qualquer que seja a técnica utilizada, apesar das muitas horas necessárias e do dinheiro que envolve, o bodypainting é uma das paixões de Pedro Ildo, deixando transparecer, nas pinturas feitas em corpos, o mundo de imaginação que vive no interior deste artista.