Segundo a tradição da Igreja Católica, João Baptista foi quem anunciou, preparou a chegada e baptizou Jesus Cristo nas águas do rio Jordão. É o protector das doenças ligadas à cabeça, o patrono da diversão, dos comerciantes de vinho, dos músicos sacros. A comemoração do seu nascimento é feita anualmente a 24 de Junho e o povo portuense escolheu este dia para ser o seu feriado municipal.

Mas há muito que as comemorações do São João deixaram de ser exclusivamente religiosas, mesmo que a Igreja tenha inicialmente combatido os festejos pagãos. Hoje em dia, as celebrações sagradas foram mesmo postas de parte por muitos dos foliões. Actualmente, residem em espaços específicos, como as capelas ou as igrejas, e nas preces dos crentes na Cascata das Fontainhas, “a meca da cidade do Porto”, como uma vez a descreveu Germano Silva.

O que antes se resumia a um dia de missa obrigatória, hoje é um dia e noite de festas sem fim, com vários ambientes, em vários cenários e todo o tipo de pessoas. Da corrida de barcos rabelos, da Foz do Douro até à Ribeira, à corrida de S. João aos concursos de montras e rusgas, o programa é para todos os gostos. Os enfeites, as luzes coloridas, as tasquinhas, os bailes e as diversões ao ar livre entretêem noite dentro os boémios e acompanham as sardinhas na broa, o caldinho verde e a salada de pimentos.

Descobrir as tradições

A Festa de São João é, numa visão mais profana, a festa do solstício de Verão, a marca do apogeu do curso solar. Assim, acabou por herdar o culto das plantas, da água, das pedras, das ervas e do fogo, elementos associados a benefícios no amor, na saúde, na felicidade e na beleza.

A misticidade da água vem já do baptismo do Messias por João Baptista e culmina na crença de que as orvalhadas da noite de S. João têm o poder de curar doenças, dar beleza aos jovens ou ainda favorecer amores. Há mesmo quem, ao amanhecer, rume em direcção à água salgada, onde o Douro beija o mar.

E quem quiser demonstrar coragem, ser purificado e captar a atenção das “moças”, pode sempre saltar as fogueiras sanjoaninas ateadas nas ruas. Mas o fogo mais esperado é o de artifício, à meia-noite de dia 23 de Junho, que junta milhares de pessoas nas margens do Douro. Este espectáculo, assim como os balõezinhos de S. João lançados em direcção ao céu, estão ligados a rituais ancestrais que acreditavam poder trazer para a noite a luz diurna do sol.

O manjerico, as marteladas e a sardinha a pingar no pão

O manjerico e o alho-porro não surgem por acaso. As ervas aromáticas mais importantes da quadra são famosas pelas virtudes mágicas e terapêuticas, com benefícios para a saúde. Os manjericos fazem sucesso durante toda a semana, espalhando pela cidade um cheirinho agradável, vasos coloridos e quadras mais atrevidas. Mas na noite mais agitada do ano, o símbolo por excelência é o alho-porro, usado para o desejo da boa sorte da fortuna aos mais queridos. Deixá-lo à porta de casa também pode proteger contra os maus-olhados.

Mas se há coisa que o cheirinho do manjerico não consegue disfarçar, é o cheiro da sardinha. Em cada beco ou ruela, assam-se sardinhas e distribui-se broa, que preparam o estômago para o leite-creme. É ainda tradição o carneiro assado, em alternativa à sardinha, que remete para a figura de S. João, sempre acompanhado de um cordeiro. Diz-se mesmo que a sardinha só surge depois, pela abundância e pelo preço mais acessível durante a época.

Seja a festa religiosa ou pagã, não falta o néctar dos deuses. O vinho do Porto marca sempre presença à mesa. E mais ou menos alegre, o povo sai à rua acompanhado dos martelinhos, criados precisamente para inflacionar o divertimento da festa. O som do martelinho precede a “pancadinha de amor” na cabeça de quem passa, num ambiente de riso e descontracção.
A Festa de São João não é só a festa popular da cidade mas também uma demonstração do orgulho de ser portuense.

Mas será que os nortenhos sabem tudo o que há para saber sobre as comemorações do São João? O JPN foi tentar saber.