O tablóide britânico “News of the World” foi encerrado recentemente depois de um escândalo de escutas que envolveu diversos jornalistas. Segundo foi confirmado pelo próprio jornal, milhares de pessoas, incluindo familiares de militares mortos no Afeganistão, foram alvo de escutas por parte do jornal ao longo dos últimos anos.

A última edição do jornal vendeu cerca de cinco milhões de exemplares e, nela, podia ler-se um pedido de desculpas dos responsáveis pelo jornal devido à conduta de certos jornalistas.

A história não é, contudo, nova. Em 2007, um dos jornalistas do “News of the Screws”, como também era conhecido, foi condenado por aceder a informação de “voice mail” de diversas pessoas e sabia-se que a prática era comum e aceite no jornal. Mas, a semana passada, dois jornais britânicos, Guardian e Daily Telegraph, revelaram que, para além das celebridades e políticos normalmente espiados pelos jornalistas do “News of the World”, familiares de vítimas de ataques terroristas e soldados que morreram em combate também foram alvo de escutas.

Para conter o escândalo, Rupert Murdoch decidiu dar por encerrada a impressão do jornal, mas o episódio pode vir a afectar a News Corp.

Quem sai, decerto, afectado é o jornalismo. Para Helder Bastos, professor de comunicação social na Universidade do Porto, o jornalismo britânico pode tirar diversas lições deste caso. “O ‘terrorismo’ jornalístico não compensa”, entende o professor. “Quem abandalha e insulta o jornalismo a este ponto, com a presumível conivência criminosa dos proprietários, não merece melhor sorte”, acrescenta. Rupert Murdoch deveria, diz o professor, “ser o primeiro a sentar-se no banco dos réus, pois deve muitas explicações aos cidadãos britânicos e não só”.

Para além disso, Bastos acredita que esta é mais uma prova de que “um jornalismo sem mecanismos mínimos de auto-regulação é uma bomba ao retardador” e que a “luta cega e desenfreada pelas audiências e pelo lucro tem o seu preço”. Por isso mesmo, podemos esperar novas regras para a imprensa britânica, garante o primeiro-ministro britânico, David Cameron. “Quando os média e os jornalistas não são capazes de se auto-regular, de modo a conterem os atropelos éticos e deontológicos da profissão, alguém (de fora) virá, mais tarde ou mais cedo, tratar disso”, considera. “Normalmente, são os governos”, acrescenta, lembrando que “a responsabilidade social do jornalismo é enorme”.