O começo do último dia de Milhões de Festa de 2011 foi passado, mais uma vez, ao pé da piscina, palco “maior” das festividades e que consegue a proeza de agradar a gregos e troianos. O alinhamento, ligeiramente alterado para acomodar duas bandas que, por motivos técnicos, não conseguiram actuar no dia anterior, também fazia valer esse desejo ecléctico. Das performances que se fizeram ouvir ao pé da água, destaque para duas bandas, uma pelas melhores e outra pelas piores razões.

Depois de já Kim Ki O e Mkrni, as bandas “extra”, terem actuado, e no meio do torpor causado por já três dias de festival, eis que surgem os Pega Monstro. Se o nome assusta, mais assustavam as vozes das vocalistas que, com letras inspiradíssimas onde falavam do que comeram ao jantar, despejavam berros agudos que fizeram muitos fugir do pé da piscina. Os que sobreviveram ao “ataque” da banda de Lisboa tiveram como recompensa a actuação dos Larkin, que começaram logo o concerto com o vocalista em cima do público (literalmente). “Acabou-se o sossego”, garantiu o aventureiro enquanto saltava para cima das colunas e levava os adeptos de mosh na água ao delírio.

Para quem fugira para o recinto principal, uma programação mais apaziguadora. Dear Telephone, banda que abriu o palco Milhões neste último dia, mostrava o porquê, apesar dos poucos meses de existência. Entre as canções que compõem o EP de estreia e versões como “West End Girls” dos Pet Shop Boys, foi caindo a tarde no palco principal. De seguida, os Papa Topo acabaram um pouco com o momento de contemplação que se vivia no palco Milhões, com músicas que pareciam saidas dos desenhos animados “Doraemon” e convidavam todos a passinho de dança com cheiro a Verão.

Mas a revelação do dia surgiria no palco Vice, ali mesmo ao lado e a dar que falar neste último episódio do Milhões 2011. Descrever o concerto dos islandeses FM Belfast é prática quase impossível, mas há que tentar: vestidos à nerd, com direito a suspensórios e lacinhos, os FM Belfast depressa fizeram suar todos os presentes, desfiando o melhor do electro-pop enquanto se iam despindo (acabaram o concerto em boxers). Nem as falhas de electricidade (quatro, pelas contas dos presentes) interromperam a celebração da loucura. Improvisando ao máximo e usando o público como instrumento, os islandeses fizeram a festa, com ou sem luz, e vão ficar na memória de muitos como uma das melhores actuações desta edição.

A morte (dos Green Machine) e a ressurreição (das Electrelane)

Depois de um concerto destes, os We Trust, que se estrearam ao vivo neste festival, tiveram uma tarefa deveras ingrata… até porque, pouco depois, as atenções viravam-se de novo para o palco Vice, com o último (até ver) concerto dos Green Machine. Por entre gritos de “vamos matar esta banda”, incitados pelo próprio vocalista, muito mosh e mergulhos na multidão, a banda de culto não desapontou os presentes. O concerto culminaria ao som de “Green Machine is Dead”.

Mas o público queria era ver Electrelane. Depois de uma pausa de quatro anos, o grupo feminino era um dos grandes cabeças de cartaz do Milhões de Festa. As meninas de Brighton deram espectáculo, mesmo com instrumentos emprestados por outras bandas presentes, fruto de problemas com a companhia aérea que não lhes fez chegar o material.

Destaque final para Radio Moscow e Comanechi que, de duas formas completamente distintas, fizeram as delícias dos festivaleiros ao final da noite. O público que delirara com Graveyard teve em Radio Moscow mais um momento de glória, a encerrar em beleza (e recheado de solos de guitarra) as actuações no Palco Milhões deste ano.

Do outro lado do espectro, Akiko espalha o caos com os Comanechi, atirando-se para o chão, berrando, saltando e incitando ao mosh. Como a própria afirmou durante o concerto, era “impressionante a quantidade de gente” que estava “acordada e com vontade de saltar a esta hora” (eram quatro da manhã). Bem ao estilo que a caracteriza, Akiko fez tudo e mais alguma coisa para acordar Barcelos inteira.

Ao momento de êxtase histérico e caótico, seguiu-se a segunda actuação do dia dos Secousse, que trouxeram a festa africana, o hip-hop e o caos melódico ao (último) nascer do dia deste festival. Para o ano, espera-se, há mais.