Mais uma tarde de ensaio, na sala 311, do Centro Comercial Stop, o verdadeiro âmago musical da cidade do Porto. Não se corre o risco de confundir salas de ensaio. O som é pungente e já distintivo, de forma a saber exactamente onde encontrar os Touro. É estouro, de facto, aquela melodia que soa a “intestinal”, “feia”, “forte”, aquela “vertigem” essencialmente “rock”. É assim que se “ouvem” os quatro elementos da banda portuense.

Formado em 2009, o grupo é constituído por Rui Babince (voz), Ricardo Cavalera (guitarra), Pedro Santos (baixo) e Francisco Beirão (bateria). Conheceram-se pela amizade e pela música e é por elas que tocam com prazer. “A essência dos Touro começou no Superpiso, uma casa com terraço enorme”, adianta o baterista. “E foi aí que um dia disse que adorava ter uma banda chamada Touro”, relembra, de imediato, Rui Babince. “Ali começámos a tocar umas ‘malhas’. Entendíamo-nos bem a tocar uns com os outros”, acrescenta Francisco Beirão. Com a posterior entrada de Ricardo Cavalera, a formação estava completa.

Tão repentina, a ideia de se baptizarem de Touro acabou por ser mesmo a mais adequada ao tipo de música que produzem. “Pego na cena do animal por uma perspectiva de personalidade. Aquela força, raiva, o correr sempre atrás. Ao mesmo tempo, tem a ver com aquela visão tranquila e solitária do animal”, explica o vocalista. Esta dicotomia traduz-se numa mescla sonora. “Temos momentos em que viajamos para outros ambientes, em que a música tem muito mais a ver com pasto do que propriamente com a arena”, frisa Babince.

A produção de um som musculado, cheio de tormenta e vigor é o que distingue os Touro das outras bandas. Difícil de digerir para alguns? “Todos aqui temos noção que temos um som que não é fácil. Para o ouvir, precisas de dois kompensans (risos).Nós fazemos música feia, mas é mesmo o que queremos. Farto de música bonita estou eu”, afirma Ricardo Cavalera.

Letras de carácter forte em português

Aliadas às melodias, estão as letras igualmente acutilantes. Integram “Náusea” faixas como “Sirvam-se do caos” e “Processo de negação”. “Como será se tudo está como está?” pode ouvir-se no tema “Estar como estiver”, primeiro vídeo lançado pelo grupo, nas redes sociais. “A ‘Estar como estiver’ é um acto de reflexão e que, não parecendo, não é um acto de resignação”, afirma Babince. “No entanto, não somos missionários. Mesmo o que pode ser mais ou menos interventivo, não o fazemos com o objectivo de evangelizar ninguém”, garante.

Contudo é “Bulir” que é apontado pelos quatro como o tema que melhor define o estilo musical de Touro. A música fala de uma sociedade “quantificadora”. “Tudo é uma taxa, um número, um índice. É esta a escravidão do trabalho, pelo trabalho e não pelo prazer do trabalho”, explica o vocalista. Tal como todas as outras faixas é cantada em bom rock português. A escolha da língua-mãe revelou-se “naturalíssima”.

Outro prazer unânime entre todos os elementos é a liberdade total de tocarem juntos. “Sugerimos muitas coisas uns aos outros. O facto de não tocares um instrumento faz-te ter ideias”, diz Francisco Beirão. “Houve uma música na qual o Rui se sentou com a guitarra e os ‘riffs’ principais foi ele que os fez”, acrescenta Pedro Santos.

O grupo já tocou no Porto, em Braga, Aveiro e, inclusive, Madrid, em que abriram o concerto da banda local, Las Madres. Pela terceira vez no Hard Club, os Touro vêm, finalmente, apresentar o seu EP e a promessa de um bom espectáculo é garantida. “É mais interessante tocar para cem pessoas do que para dez, mas vamos fazê-lo com o mesmo vigor e a mesma adrenalina”, garante o vocalista.

“Náusea” é apresentado hoje às 22h30, no Hard Club do Porto. O bilhete (com oferta do EP) custa 10 euros. Sem o EP, se for comprado antecipadamente, custa 5 e na própria noite fica por 7 euros.