O reverso da moeda é, normalmente, desfavorável. Neste caso, o reverso é duplamente desfavorável. Teixeira Lopes, professor de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que a saída de recém-licenciados de Portugal “é uma perda enorme para o país, porque Portugal investiu nas pessoas. A perda é dupla: perde porque as pessoas vão embora e porque não conseguimos aumentar a nossa população activa”.

Teixeira Lopes destaca as áreas de investigação, Arquitectura e Artes como as mais afectadas neste sector. “Nós temos em Portugal, actualmente, uma espécie de bloqueio na área de investigação. O mercado de trabalho não está a desenvolver porque ainda conta demasiado com a questão da mão-de-obra barata e pouco qualificada”, explica o sociólogo.

“Outrora era menos provável que as pessoas emigrassem mas, hoje em dia, com a abertura dos mercados e com a facilidade de deslocação, os jovens licenciados sentem-se tentados a isso”, explica o sociólogo.

Com a possibilidade de uma experiência positiva e profissionalmente gratificante, os jovens recém-licenciados sentem-se tentados a procurar um caminho diferente pelo Mundo fora. A grande proliferação da saída de jovens formados em Portugal para outros destinos da Europa pode conduzir a um fenómeno que muitos sociólogos alertam: a fuga de cérebros.

Maria Cruz trabalha fora de Portugal. Já há muito tempo que a editora da revista “Science” deixou de ver Portugal apenas como o seu lar, mas não se considera uma “fugitiva”. “Quando saí de Portugal pela primeira vez, em 1999, não foi para fugir do país mas para agarrar a oportunidade de estagiar num dos laboratórios de maior prestígio dos Estados Unidos”, explica a cientista e editora.

Apesar de se encontrar a uma grande distancia geográfica de Portugal, a cientista conhece o panorama da investigação portuguesa. Maria fala do outro reverso da moeda, de Portugal poder ser um bom porto de oportunidades para jovens provenientes de outras paragens da Europa. “O problema da fuga de cérebros” não pode ser visto de forma isolada, sem se ter em conta a entrada de cérebros para o país”, afirma Maria Cruz, reforçando a recente chegada de um elevado número de investigadores em Portugal.

“Ainda não notamos os efeitos da fuga de cérebros em Portugal porque os engenheiros dos anos 80 continuam a laborar e a dar o máximo mas, quando essa geração chegar ao fim de carreira, Portugal vai sentir uma grande necessidade de profissionais de alto nível”, explica André Lamego, definindo a fuga de cérebros como “um cancro” que se está a gerar em Portugal.

António Correia viu, em Angola, um bom local para desenvolver a sua profissão. É engenheiro mecânico e recebeu um convite para trabalhar no país africano. Vem a Portugal várias vezes porque este é, e sempre será, o seu país. Mas, contrariamente ao que lhe diz o coração, a razão leva-o a afirmar que o que sente hoje é que “quem tiver oportunidade e disponibilidade de sair do país, que o faça sem ponderar duas vezes”.