Os Dear Telephone, compostos por elementos que pertencem a grupos como Kafka, Green Machine ou La La La Ressonance, foram uma das bandas que marcaram presença no festival Milhões de Festa, em Barcelos. O JPN aproveitou a oportunidade e esteve à conversa com André Simão, vocalista do projecto que lançou o seu primeiro EP, “Birth of a Robot”, em Março deste ano.

Durante o vosso concerto no Milhões de Festa ouvimos Pet Shop Boys. Quais são as vossas principais inspirações?

É um caldeirão muito complicado, bastante largo de influências. Essa versão dos Pet Shop Boys surgiu quando começamos a tocar juntos. Uma das maneiras que encontramos de tentar perceber o que aquelas quatro pessoas tinham para fazer umas com as outras foi brincar com algumas canções que, quase por brincadeira, lançávamos para a mesa. Essa foi uma delas e ficou.

Como se consegue conjugar uma voz masculina [André Simão] e outra feminina [Graciela Coelho] num projecto como este? “Juntar” as vozes foi um processo complicado ou foi bastante natural?

Foi um processo interessante porque a Graciela tinha pouca experiência em bandas, ao contrário de nós, que já somos bastante dinossauros nestes caminhos. Mas, por outro lado, ela estava bastante experimentada como vocalista e eu já não cantava há anos. Foi uma dialéctica muito interessante porque se, por um lado, ela tinha inseguranças do tamanho do mundo no que tocava a compor e a estar em banda, eu, por outro lado, não sabia muito bem o que havia de fazer com a voz. Enquanto íamos descobrindo e tapando as nossas inseguranças, quando demos por ela foi como se tivessemos partido de pontos diferentes e nos tivessemos encontrado no centro. Foi uma coisa bastante natural.

As vossas anteriores e actuais bandas são, talvez, as vossas maiores “inspirações”. Como se consegue conjugar aqui tantas experiências diferentes?

Uma coisa que o público acaba por não ter noção é que, por cada projecto que fazemos acertar, há dez que falham, mas sabe-se logo se vai acontecer alguma coisa ou não. Este foi um caso de sucesso nesse aspecto, porque eu e o Paulo [Araújo] tocamos juntos desde a Idade Média, já sabiamos que haveria alguma afinidade. Havia a incognita da Graciela, que sabiamos só que tinha uma voz belíssima. Nos primeiros ensaios, andamos às apalpadelas a tentar perceber qual seria a melhor maneira de pôr a banda a funcionar e, curiosamente, não acertamos à primeira. Percebemos que ia funcionar, mas não percebemos logo como iria funcionar. Demoramos algum tempo a afinar o método. É por isso que já começamos a tocar juntos há mais de um ano e só editamos há dois ou três meses e começamos a dar concertos na mesma altura. Mas foi um processo calmo e relaxado.

Cada um fez o seu caminho individualmente até chegar ao projecto…

Sim, é um bocadinho isso. Depois chegas a uma altura em que fixas um deadline e dizes que o disco vai sair naquela data. A promoção começa a ser preparada, os concertos também e sabes que naquele dia, naquela data, naquele ponto, vamos ter que estar todos na mesma sintonia. Até lá, permitimo-nos algumas divagações e procuramos a nossa personalidade na banda.

Foi difícil “vender” o produto Dear Telephone?

Não. Primeiro porque, durante quase vinte anos, tudo o que fiz foi bastante mais experimental que isto. A relação das pessoas com esta música é muito mais simpática e mais imediata do que com qualquer outro dos projectos que tive. As pessoas conheciam os elementos dos projectos, mas este é um projecto a que o público responde muito mais imediatamente, até porque a música é mais aberta e tem um âmbito um bocadinho mais alargado. Por isso, não tem sido muito difícil e temos tocado bastante. O disco começou agora a ser distribuído também no Japão e na Holanda e vai também para o Reino Unido. Ainda não sabemos o que está a acontecer com o disco, mas a receptividade não tem sido um problema para já.

O que é que se segue?

Agora os nossos objectivos a curto prazo passam por tocar, sedimentar o tal ponto em que nos encontramos e dar mais concertos deste disco. Já temos alguns marcados para a reabertura depois das férias e vamos começar a compor porque, tendo em conta a resposta que temos tido, será quase obrigatório fazermos um disco em 2012. Mas ainda não estamos a pensar nisso. Vamos oferecer a nós próprios o prazer de tocar os temas que estão feitos até ao fim do ano, juntamente com algumas coisas novas. Mas em 2012 vamos ter de parar para fazer um disco.