Quando se pergunta qual a melhor pessoa para falar sobre a história da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), a resposta é sempre a mesma e sem qualquer hesitação: Armando Carvalho Homem. Presidente do departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais e professor desde 1973, Carvalho Homem sabe de cor estórias e a história da FLUP, instituição que o recebeu em 1968, como aluno, e que o acolhe desde então.

“A faculdade foi criada por um decreto de Agosto de 1961”, tendo o funcionamento efectivo sido processado “apenas a partir de 1962/63, para as licenciaturas em História e Filosofia e para o antigo curso de Ciências Pedagógicas”, relata Armando Carvalho Homem. O local de funcionamento era o edifício que hoje alberga o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e que, já na altura, “estava a rebentar pelas costuras”, com a presença da antiga Escola Cirúrgica, do Órfeão Universitário e do Teatro Universitário do Porto. À FLUP couberam, “a pleno uso”, a biblioteca, quatro salas de aulas e um anfiteatro, partilhando ainda o “Salão Nobre com uma série de aulas de outras faculdades”, recorda.

O pólo do Centro Histórico que nunca saiu do papel

Quando se deu o 25 de Abril de 1974, a Reitoria da UP encontrava-se a estudar a criação de “um verdadeiro pólo universitário nos edifícios históricos em torno da Faculdade de Ciências”, conta Carvalho Homem. “A ideia era que a Guarda Nacional Republicana pudesse sair do Quartel do Carmo, que a própria Reitoria pudesse vir, também, a ocupar o edifício da antiga Cadeia da Relação e que Letras se mudasse para o Mosteiro de São Bento da Vitória”, explica, enfatizando aquilo que poderia ter sido “um pólo muito mais extenso na zona história da cidade”. Todavia, “este projecto de expansão morreu a partir de 1974”.

As condições nesta “casa muito pequenina” foram servindo até 1972/73, ano lectivo em que se iniciaram as licenciaturas em Geografia e Filologia Germânica, já depois de, em 1969, Filologia Românica ter arrancado. “A coisa começou a complicar-se” e, no ano lectivo de 1973/74, Filologia Germânica foi transferida para o edifício da rua das Taipas, perto do Mosteiro de São Bento da Vitória, “que mais tarde seria sede da Faculdade de Psicologia”.

Já na rua do Campo Alegre, a partir de 1973, o Palacete Burmester, situado ao lado da Casa Andersen, alojava uma biblioteca de Estudos Brasileiros, bem como seminários dos cursos de História e Filosofia. Começava, assim, a “autêntica diáspora” pela cidade do Porto por que a FLUP passou até 1995.

Do Seminário de Vilar à Via Panorâmica

Após o 25 de Abril de 1974, com o projecto de criação do ICBAS e do inicialmente chamado Instituto Superior de Educação Física (actual Faculdade de Desporto da UP) – cujas instalações no Pólo da Asprela ainda não estavam concluídas -, “viu-se que Letras iria ter de sair do edifício do Carmo”.

“Andámos ali uns anos com cada grupo em seu edifício”, recorda Armando Carvalho Homem. “As germânicas lá continuaram nas Taipas”, prossegue, e História ocupou, de 1975 a 1977, o antigo Seminário de Vilar, actual Casa Diocesana de Vilar, onde “todos os professores tinham gabinetes individuais, que eram os antigos quartos dos professores do Seminário”. “Avant la lettre e avant le temps, de 1973 a 1977, constituíram-se os departamentos“, considera o docente.

Foi precisamente em 1977 que todos os cursos da FLUP se agruparam num edifício ao fundo do Palacete Burmester, o “Complexo Pedagógico“, onde hoje funciona o departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da UP. Mas ainda não havia de ser o “Complexo Pedagógico” a proporcionar as instalações dignas de uma das faculdades mais populosas da UP, à época. “Havia salas de aula a deitar por fora, com pessoas em cima de cadeiras, à porta, a tentar ouvir alguma coisa”, lembra Carvalho Homem, dado que “o edifício era claramente insuficiente para as necessidades”. O professor catedrático recorda, até, um episódio em que um colega “chegou a dar aulas de galochas porque o espaço mais baixo do anfiteatro, junto ao quadro de ardósia a giz, estava inundado”.

Seriam ainda precisos outros 18 anos para que a Faculdade de Letras ocupasse um edifício construído especificamente para satisfazer as necessidades de uma escola com cada vez mais cursos, algo que apenas se concretizaria em Dezembro de 1995, com a inauguração da “casa” da Via Panorâmica. Contudo, o processo de construção do espaço de cerca de 16 quilómetros quadrados, com projecto de Tasso de Sousa, não foi pacífico: demorou dez anos a ser construído e depara-se, actualmente, com problemas de manutenção.