Depois de dez anos a viver em Paris, o fotógrafo chileno Héctor Olguin tinha duas opções: ir para Berlim e trilhar o seu caminho artístico numa cidade “muito distractiva”, mas de grande oferta cultural, ou começar de novo no Porto. Contrariando todas as probabilidades, escolheu a segunda. “Queria um espaço onde as pessoas fossem mais disponíveis, não se estivesse a correr todo o dia e onde me pudesse encontrar a mim mesmo”, conta Héctor ao JPN.
Juntamente com a designer portuguesa Sofia de Eça, candidatou-se a uma residência artística pelo período de um ano no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, no Porto. É aqui que se dedica a elaborar “Correspondances“, um projecto muito pessoal, composto por quatro séries de fotografias com a estética do corpo em movimento, em que Héctor reflecte sobre si próprio e explora o universo do fantástico.
Ao colocar um modelo num determinado cenário, vestindo-lhe, muitas vezes, as suas próprias roupas, constrói uma série de alter-egos. “É como uma carícia visual. Pode ser um bocado vaidoso, mas tenho de falar das minhas experiências. Através destas fotografias, as pessoas podem ter um conhecimento mais amplo da minha vida e interrogar-se sobre as suas.”
A residência no Palácio das Artes
Na sala que lhe foi reservada, Héctor montou o seu atelier. É nele que tira grande parte das fotografias que vão compor o projecto. A residência termina em Novembro com uma exposição, uma instalação sonora e a edição de um livro.
Para além de ajuda na divulgação e promoção do seu trabalho e da cedência do espaço, esta permanência no Palácio das Artes não lhe garante qualquer outro tipo de apoio. Héctor vê-se assim obrigado a desdobrar-se em contactos para conseguir financiar o projecto.
As Feiras Francas, em que já exibiu o seu trabalho duas vezes, são uma forma. Também continua a apelar ao apoio de várias entidades. No início do ano, viajou para Paris com o propósito de marcar uma exposição. Consegui-o. A 16 de Setembro a galerie octObre recebe uma pré-exibição de “Correspondances”.
Ao contrário de Sofia Fitas, Héctor encara estes processos com naturalidade, por isso não o constrange que nem todas as residências incluam uma bolsa de financiamento. Aliás, de algum modo, até se sente “mais autónomo”. “O trabalho do artista é mais complexo do que tirar uma fotografia ou criar um conceito. Hoje temos de saber dançar, cantar e passar o chapéu.” Pelo menos até atingir um certo estatuto em que “já se pode existir como artista”.
Para o ano, vai ocupar-se apenas da divulgação deste trabalho e preparar-se para um projecto “ainda mais ambicioso”. Acima de tudo, não quer ficar por aqui, física e metaforicamente. “Antes de ir para Paris, procurei o meu lugar durante sete anos. Viajei por diferentes países da América Latina e dos Estados Unidos. Agora quero levar ‘Correspondances’ para lá”. Como? “Tenho de procurar, de conseguir meios.”