No Porto, são vários os projectos que promovem residências artísticas. A Câmara Municipal do Porto, por exemplo, chegou a coordenar até cerca de 2001 o Programa Ateliers da Lada, que durante vários anos recebeu artistas portugueses e estrangeiros*. Instituições como o Palácio da Artes – Fábrica de Talentos, onde Héctor Olguin está em residência, a Fundação de Serralves e o Balleteatro também promovem ou já promoveram residências artísticas, mas há outros espaços em que esta característica nem sempre é conhecida.
A Casa Amarela, projecto experimental de fixação da galeria Nómada, assume-se como um “laboratório criativo pluridisciplinar e interdisciplinar independente”, como se pode ler no texto de apresentação do blogue.
O projecto, iniciado este ano, promove um programa de residências aberto a criativos portugueses ou estrangeiros pelo período de um a três meses. Aos artistas, em troca de uma quota mensal, é garantido um atelier, com horário de abertura ao público, e alojamento nos edifícios da Rua Galeria de Paris que integram o projecto. De férias em Agosto, a Casa Amarela reabre em Agosto.
Bem perto, em Guimarães, Capital Europeia da Cultura em 2012, vai arrancar o Centro para os Assuntos de Arte e Arquitectura (CAAA), instituição sem fins lucrativos que, entre outras coisas, “disponibiliza espaços de alojamento e produção (…) para colaborações entre artistas e arquitectos (…) num período de tempo que pode ir até um ano”. [ver PDF].
O propósito do Maus Hábitos não é “o levantamento de copos”
A celebrar o 10.º aniversário, o Maus Hábitos tem desde a sua origem uma “vocação de mecenas”, garante Daniel Pires, responsável pelo espaço. “É o nosso verdadeiro propósito, não o levantamento de copos”, graceja. Imperativos financeiros moldaram um pouco o modelo de gestão, mas “o Maus Hábitos sempre acolheu artistas”, mesmo que não fosse em formato de residência.
As primeiras residências realizaram-se em 2008. O artista brasileiro Ronald Duarte, bolseiro da Fundação Iberê Camargo, desenvolveu durante três meses no Maus Hábitos o trabalho que apresentou no Trama – Festival de Artes Performativas. Em “Sweet & Tender Collaborations”, 40 criadores de 22 países diferentes instalaram-se no Porto durante dois meses e desenvolveram projectos que confrontavam o público em vários locais da cidade. Desde aí vários artistas já passaram pelo espaço. Embora não consigam garantir apoio financeiro para os criadores, fazem os possíveis e os impossíveis para arranjar alojamento, ateliers e espaços para exposição.
O Maus Hábitos “quer ser o sítio” e não “mais um sítio” para os criadores. Por isso, este ano vai candidatar-se aos fundos da Direcção-Geral das Artes no sentido de promover residências de maior duração e com apoio financeiro para o artista incluído.
Um espaço para “continuar a criar” na FBAUP
Também a Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP) coordena desde o ano passado um programa de residências artísticas na Casa Oficina António Carneiro (COAC), fruto de um protocolo com a Câmara Municipal do Porto.
Alunos e ex-alunos podem assim ocupar a antiga ala residencial da COAC como atelier. O espaço é ocupado por dois artistas em residência em simultâneo por um período de três meses. Os criadores podem aceder ao espaço 24 horas por dia. No final da permanência, apresentam o projecto desenvolvido na própria Casa Oficina. Esta residência prevê apoio apenas na exposição para divulgação e impressão de cartazes.
“Pretendemos que estes programas possam fornecer, para lá da formação inicial, um espaço para continuar a criar”, explica Graciela Machado, coordenadora da iniciativa. Um dos objectivos é que o criador se “relacione com a COAC” e que o projecto desenvolvido “seja um olhar contemporâneo para a obra de António Carneiro”.
Os dois criadores expõem em simultâneo nas duas salas mais amplas da COAC e “escolhem como querem interagir” com o espaço, que “peças permanecem”, o que deve ser requisitado. “O que é exposto é uma montagem inteiramente coordenada e pensada pelos artistas.”
Em simultâneo, continua a existir a possibilidade de fazer uma residência dentro da própria FBAUP pelo período mínimo de um dia e máximo de três semanas de exposição. Este programa já se encontra aberto a todos os artistas. “São situações pontuais. É uma forma de termos a produzir cá dentro artistas profissionais que necessitam de um determinado recurso que a faculdade pode disponibilizar. Desta forma, os alunos têm acesso a alguém que numa prática profissional o faz num contexto académico”, explica Graciela Machado.
* O JPN não obteve resposta aos telefonemas e ao e-mail enviado à autarquia que solicitava informações sobre o programa.