Numa altura em que a crise nacional e global atinge, como nunca, a entrada no mercado de trabalho, esta situação ganha outras proporções no sector artístico, caracteristicamente volátil e incerto.

As residências artísticas sempre foram encaradas como importantes apoios à criação artística. Já em inícios do século XX, no Reino Unido e nos Estados Unidos mecenas patrocinavam artistas cedendo-lhes espaços para desenvolverem os seus trabalhos.

Na mesma altura, muitos criadores procuravam no campo a concentração que não tinham na cidade. Em 1889, Heinrich Vogeler e Rainer Maria Rilke instalaram-se com outros artistas em Worpswede, uma pequena aldeia perto de Bremen, na Alemanha. Depressa a aldeia começou a captar atenção internacional, tendo ficado conhecida por “Weltdorf” (aldeia do mundo, em alemão).

Yaddo e Woodstrock Byrdcliffe Guild são duas das comunidades criativas mais antigas de sempre. Hoje cabe à internet a tarefa hercúlea de compilar todos os concursos para residências. Portais como o Trans Artists e o Res Artis são ferramentas essenciais para artistas de todo o mundo.

Programa para todos os gostos

Actualmente, as residências artísticas continuam a manter algumas das características iniciais. O envolvimento com um novo espaço, a interacção com outros criadores e a oportunidade do artista se dedicar apenas à arte durante um período de tempo tornam estes programas muito atractivos para os criadores.

Nenhum programa é igual ao outro. Pode durar um dia ou um ano, incluir uma bolsa de compra de material ou apenas alojamento, convidar ao envolvimento com a comunidade ou ao recolhimento. Em muitos, é o próprio artista o responsável por garantir o apoio financeiro para o seu projecto.

Nascido no Chile, Héctor Olguin encontra-se em residência no Palácio das Artes – Fábrica de Talentos, no Porto, até Novembro. O fotógrafo não conta com qualquer tipo de apoio financeiro para a sua estadia em Portugal, mas isso não o desmoraliza. Sente-se “mais autónomo” ao ter de angariar apoios e publicidade.

Já Sofia Fitas trocou Lisboa por Paris, onde o JPN a encontrou no início do ano. A bailarina e coreógrafa tem vindo a apostar no estrangeiro porque é onde encontra “mais perspectivas”. À procura de financiamento, perde muito tempo “a fazer o secretariado”, algo que não lhe agrada minimamente.

No Porto têm surgido projectos com esta sensibilidade. A Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, por exemplo, tem desde o ano passado um programa de residência na Casa Oficina António Carneiro. Já o Maus Hábitos admite que a verdadeira vocação do espaço sempre foi a promoção da actividade criativa.