Paula Salgado publicou, na última semana, um artigo, juntamente com outros cientistas, na “Proceedings of the National Academy of Science” (PNAS), uma das mais importantes revistas científicas dos Estados Unidos da América. A portuguesa, residente no Reino Unido desde 2001, tem vindo a estudar uma “família de proteínas fortemente associada à patogenicidade de um fungo, Candida Albicans”, responsável pelas comuns infecções hospitalares.

“Embora cerca de 80% da população tenha este ‘bichinho’ na flora intestinal sem ter nenhum problema de saúde, ele pode tornar-se patogénico”, explica Paula Salgado, salientando o facto de esse fungo ser capaz de “migrar através do sistema sanguíneo e infectar vários órgãos”.

A UP e a interdisciplinaridade

Como estudante de Bioquímica, um curso em parceria entre a FCUP e o ICBAS, Paula Salgado percebeu “muito cedo a importância da interdisciplinaridade e a ligação entre as várias áreas científicas”. A relação dinâmica entre “diferentes áreas e diferentes formas de ensinar e investigar” tornou-se ainda mais evidente durante o período em que trabalhou no IBMC. “A experiência laboratorial que adquiri durante este período de formação, nomeadamente a nível da Biologia Estrutural, foi importante para ter sido escolhida para o doutoramento na Universidade de Oxford”, considera.

Este cenário é “cada vez mais frequente em pessoas com o sistema imunitário debilitado e em ambientes hospitalares, designadamente os cirúrgicos”. Para tal acontecer, o “fungo precisa de se ‘colar’ às células humanas e esta família de proteínas é um dos principais elementos desse mecanismo”, continua a cientista.

Ao longo dos últimos três anos, Paula Salgado descreve “um longo percurso para conseguir obter as proteínas em forma cristalina e, depois, para determinar todos os detalhes importantes da sua estrutura e quais as principais características que permitem a identificação e interacção com as proteínas humanas”.

Para a investigadora portuguesa radicada no Reino Unido, conhecer a estrutura destas proteínas em pormenor e perceber como interagem com outras proteínas à superfície das células humanas é “fundamental para conseguir desenvolver novos medicamentos que destruam estes fungos, ‘desenhados’ especificamente para impedir essas interacções”. Um combate mais eficaz às infecções, “cada vez mais problemáticas” devido ao aparecimento de variantes do fungo resistentes aos medicamentos actualmente disponíveis, é uma das metas do estudo.

Do IBMC para o Imperial College of London

Depois de uma passagem por Lisboa, Paula Salgado terminou a licenciatura em Bioquímica na Universidade do Porto. Foi nos últimos anos do curso que decidiu enveredar pela área da Biologia Estrutural, “o estudo da forma das proteínas e a sua relação com a respectiva função”.

Após ter trabalhado, por dois anos, no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IMBC), onde contribuiu para o estudo da proteína responsável pela “Doença dos Pezinhos”, seguiu para a Universidade de Oxford, para fazer o doutoramento. “Os quatro anos passados em Oxford foram uma experiência inesquecível, não só a nível profissional, mas também a nível social e cultural”, recorda. Mas a cientista não se ficou por Oxford e partiu para a capital inglesa.

Em 2005 mudou-se para o Birkbeck College da Universidade de Londres, integrando um projecto de estudo de “proteínas de um vírus causador de cancro da pele, com elevada incidência em doentes com HIV”. Dois anos depois, em 2007, tornou-se investigadora no Imperial College of London, estudando a “estrutura e a função de uma proteína de um fundo patogénico”. O estudo publicado este mês na PNAS “descreve os resultados obtidos nos últimos três anos”.

Notícia actualizada às 12h59 do dia 13 de Setembro de 2011.