O Wallpaper* City Guide já fez o retrato-robô do Porto. É um best-of cor-de-rosa de uma cidade “que muda todos os dias”. Falamos com David Knight, autor apaixonado pelo Porto e preocupado com o Bolhão.

David tem formação em Arquitectura, mas nunca exerceu. Descobriu o Porto há 11 anos e não hesitou quando viu a cidade na lista das próximas com direito a um Wallpaper* City Guide (edição Phaidon). Apresentou uma candidatura com a marca DK-CM (“eu sou o DK, CM é de Cristina Monteiro”), ganhou e compilou um guia com “o melhor do melhor de uma cidade que muda todos os dias”.

“O Porto vive um momento interessante da sua vida. Vim cá quatro ou cinco vezes este ano e sempre que saio à noite o bar cool já não é o bar cool. Acontece-me constantemente. E isso é um sinal”, disse David ao P3.

No contexto europeu, o Porto “é especial”. “Não é o centro, mas isso actualmente é uma vantagem. Vivo em Londres, sei do que falo”. A cidade “tem muitas coisas que muitas cidades europeias já perderam”.

Espreitamos as fotografias (da responsabilidade de Roger Casas) e percebemos tudo. “A cidade tem uma cultura forte, uma vida urbana forte e uma cidade relativamente bem conservada. Talvez algo negligenciada, mas contam-se facilmente 30 lojas antigas que ainda funcionam. Em Londres todas elas foram destruídas há muitos anos”.

O guia é (literalmente) cor-de-rosa, mas David Knight é o primeiro a alertar para “os efeitos malévolos do turismo”. “Os sítios que estão mais bem posicionados são normalmente aqueles que mais depressa se precipitam”.

Bolhão, uma ideia estúpida

Se o visitante tiver apenas 24 horas disponíveis no Porto, a Wallpaper sugere um pequeno almoço na Confeitaria do Bolhão, umas compras no Artes em Partes e um passeio em Serralves. O dia Wallpaper termina com três copos: Era Uma Vez, Galeria de Paris e Café au Lait.

Pessoalmente, David juntaria à lista o Mercado do Bolhão, que neste momento não está em condições de ser “cor-de-rosa”. “Não conta como um sítio fixe para a Wallpaper, mas a ideia de o transformar num centro comercial é estúpida”.

Tem a palavra David Knight, advogado de defesa. “Conheço designers gráficos que vêm ao Porto especialmente para ver e fotografar o Bolhão; um verdadeiro mercado de comida no centro da cidade é uma coisa extraordinária”. “O desaparecimento destas coisas é um dos perigos de que falava. O turismo é o inimigo e também a arma. Tanto os turistas como os portuenses querem o Bolhão como é, renovado, mas igual a si próprio”.

O guia, com mais de 80 cidades disponíveis, custa 8,95 euros.