Com a crise no desporto amador ou semi-profissional, atual estatuto do basquetebol português, caiu a competitividade e a sustentabilidade financeira dos clubes ficou em causa. Rui Mota, atualmente sem clube, foi um dos prejudicados.

O atleta portuense de 33 anos, que representou o Penafiel na última temporada, conseguiu recentemente a desvinculação do clube, unilateralmente, depois de três meses a lutar por uma rescisão amigável. Rui Mota reclamava ordenados em atraso e despesas médicas por pagar e afirmou só ter sido informado da despromoção do Penafiel à CNB2, quarto escalão do basquetebol nacional, no dia em que começaram os treinos.

Por isso, as palavras do jogador denotam a ansiedade de jogar bem patente. “Estou na esperança de encontrar um clube, rapidamente, para conseguir jogar”, diz. Contudo, a época está já em marcha e os plantéis fechados. “Espero, como é óbvio, entrar o mais rapidamente possível numa equipa. Sei que a época já começou, não é fácil, mas estou esperançado”, confessa.

A atravessar uma situação inédita na carreira, o ex-jogador da Ovarense, Porto e Benfica, tem acompanhado o campeonato nacional e não vê nenhum conjunto capaz de quebrar a hegemonia de dragões e águias que se estabeleceu nos últimos anos. “O Porto e o Benfica dispõem de orçamentos enormes, têm os melhores jogadores portugueses e os americanos com mais qualidade também vão para lá. E depois há ali duas, três equipas, que poderão estar num nível mais próximo. Mas, mesmo assim, penso que a luta vai ser entre Porto e Benfica”, considera.

E quem são estas duas ou três equipas, que podem intrometer-se no despique entre azuis e encarnados? “O Cab Madeira, que tem bons jogadores, a Ovarense que, independentemente de já não ter os recursos financeiros que tinha quando eu lá estava – e foi tricampeã nacional -, continua a ter um bom leque de jogadores; e poderá entrar ali a Académica que, ainda recentemente, contratou mais um americano (Carleton Scott, que entretanto já abandonou o plantel dos estudantes)”, afirma.

Além disso, para os amantes do basquetebol, salta à vista a campanha do Barcelos, equipa recém promovida à 1.ª divisão. Em cinco jogos, os de Barcelos somam apenas uma vitória. No entanto, a qualidade de jogo evidenciada e o basquetebol positivo que praticam estão a surpreender. Rui Mota comenta o potencial deste conjunto: “é uma equipa com alguns portugueses que já jogaram na Liga Profissional, como o Carlos Fechas e o Tiago Barreiro, e, acima de tudo, mostram uma grande atitude em jogo. Por isso, conseguem contornar a falta de peso, altura ou qualidade”.

E entre os jogadores que compõem o plantel dos barcelenses, é inevitável a referência ao jovem moçambicano Augusto Matos. Os bons exemplos, contudo, vão sendo escassos. E se há bem pouco tempo vimos Queluz e Ovarense sagrarem-se campeões, no panorama que agora se vive, parece improvável o domínio de FC Porto e Benfica esbater-se. Pelo contrário, os resultados apontam para um monopólio a dois cada vez mais evidente.

“O espetáculo não é bem promovido”, diz o atleta

“Falta dinheiro. Na Ovarense, por exemplo, como é do domínio público, a Aerosoles, que era o seu grande patrocinador, afastou-se. E, a partir daí, não apareceu mais nenhum patrocinador que pudesse voltar a pôr a Ovarense no lugar que merece”, explica Rui Mota.

Porém, a crise não é a única culpada. “O espetáculo não é bem promovido, as pessoas não aderem, não vão aos pavilhões. E na formação não se veem miúdos que possam sair dos juniores e integrar as equipas profissionais. Tudo isto leva a que o nível da modalidade venha a baixar”, analisa.

A formação é um dos aspetos que Rui Mota considera ser mais negligenciado pelos clubes, algo que dá aso à “invasão” de jogadores norte-americanos na liga portuguesa. “A formação, em Portugal, está muito má. Temos muito poucos jogadores, muito poucos mesmo, que consigam sair dos juniores e afirmar-se nos plantéis seniores”, frisa.

Internacional português por 32 ocasiões, Rui Mota procura um clube onde possa dar continuidade à carreira iniciada no Sport Clube Vasco da Gama, que teve como momentos mais altos a conquista do campeonato nacional pelo FC Porto, na época 2003/2004, e o tricampeonato ao serviço da Ovarense.

Notícia atualizada às 12h36 de 17 de novembro de 2011.