Num fim de tarde de novembro, casacos e cachecóis fazem parte da indumentária de quem passa pela Praça do Ressurgimento, em Roma. Vindos da estação de metro Ottaviano, chegados de autocarro ou acabados de sair do elétrico, são muitos os que ali se juntam e depressa se dirigem para a rua da Porta Angélica.

Um pouco mais à frente, os olhares são involuntariamente desviados para um brasão de armas que, majestoso, surge no cimo de um alto muro e faz antever a proximidade do local desejado. Famílias, crentes e turistas começam a dar uso às máquinas fotográficas.

Por entre comerciantes que apregoam os baixos preços das suas barracas, empregados que apresentam aos mais esfomeados os petiscos dos seus restaurantes e um gato preto que ali se encontra estático e se torna tema de fotos e comentários, a corrente díspar de pessoas mantém o seu percurso. Poucos passos à frente, gigantescas colunas ao alto anunciam a chegada ao principal recinto da Igreja Católica.

Uma história, um passado

Já na Praça de São Pedro todos registam o momento, com a Basílica homónima a servir de pano de fundo. Por entre comentários de espanto e admiração, muitos visitantes apercebem-se que, apesar da grandiosidade da Praça, em fotos e vídeos esta parece ainda maior. Há também quem aqui encontre um bom local para culto e oração. A heterogeneidade dos rostos e linguagens é tal que facilmente se conseguem identificar os cinco continentes nas pessoas que percorrem o espaço. Tudo à volta tem uma história, um significado, que se comenta e fotografa.

No centro emerge um obelisco, originário do Egito e levado para Roma por Júlio César para adornar o seu novo circo (situado no espaço da actual cidade do Vaticano), onde eram executados os cristãos. Pedro, um dos 12 apóstolos de Jesus e primeiro Papa, foi aqui crucificado, de cabeça para baixo, pelo imperador Nero. Por ter vivenciado o martírio do santo que dá nome à Praça e Basílica, o monumento foi mantido.

Neste obelisco encontra-se personificada a aliança entre o Império Romano e a Igreja Católica, já que as cinzas de César repousam na sua base e alguns pedaços da cruz que Jesus Cristo transportou foram colocados no seu topo.

Praça de São Pedro: um projeto de Bernini

Ao fundo, é possível contemplar a imponente Basílica de São Pedro, construída após a morte deste Santo e em sua homenagem. Primordialmente, a área envolvente não possuía uma forma precisa e desiguais edifícios a rodeavam, não sendo um espaço acolhedor para todos os peregrinos que queriam venerar o túmulo do primeiro sumo pontífice.

O Papa Alexandre VII, durante o seu pontificado, achou essencial a criação de um espaço mais adequado para o acesso à Basílica. Este projeto ficou a cargo do artista Gian Lorenzzo Bernini, entre os anos de 1656 e 1667.

Bernini idealizou os dois hemiciclos, compostos por 284 colunas que, segundo ele, representam os braços da Igreja Mãe, aberta a toda a humanidade. Dos dois lados do obelisco, e assentes em bases de granito, encontram-se duas fontes. O espaço dianteiro da Basílica, a Piazza Retta, apresenta a forma de um trapézio que alarga ao aproximar-se da Praça, proporcionando a quem lá está uma autêntica ilusão de ótica da magnitude da Basílica.

No amontoado de edifícios colocados à direita da Basílica encontra-se o Palácio Apostólico, residência do Papa e dos restantes membros da Igreja Católica. É da janela da sua residência, a janela central das três com luzes acesas, que o chefe da Igreja Católica faz, na maior parte das vezes, os seus discursos e bênçãos.

Basílica de São Pedro: um encontro com a arte

A fachada principal da Basílica de São Pedro ficou terminada em 1614. Na parte superior marcam presença 13 estátuas, que representam as figuras de Cristo ressuscitado, São João Baptista e os 11 apóstolos. No centro está a varanda onde o Papa fala ao povo em ocasiões muito especiais. Em frente à Basílica há, também, uma espécie de altar ao ar livre, virado para a Praça, e onde são celebradas missas especiais, como as de Natal e Páscoa. Ladeando este altar estão as estátuas de São Pedro e São Paulo, dois dos maiores irradiadores da mensagem católica.

Ao entrar na Basílica, é-se invadido por arte em todos os sentidos. Este é o edifício mais impetuoso do Vaticano e a sua cúpula, projetada por Miguel Ângelo, é uma particularidade facilmente observável em qualquer ponto da cidade romana, com 39 mil toneladas e 42 metros de diâmetro.

Um pouco depois da entrada, todos desviam o seu caminhar para a primeira capela à direita, onde reside a famosa Pietà, de Miguel Ângelo, com Maria a carregar Jesus, morto, nos braços. Ao fundo, está o altar principal, onde se celebra uma missa e cujo ingresso é apenas permitido a quem participar na celebração. Sob o altar está enterrado Pedro e, por esta razão, os chefes da Igreja Católica, ao longo dos tempos, têm sido enterrados nesta basílica. Reside aqui mais uma admirável obra de arte, o Baldaquino, encomendado pelo Papa Urbano VIII a Bernini e que consiste numa espécie de cobertura para o altar onde o primeiro Papa está sepultado.

A hora vai já avançada e, dentro de poucos momentos, a Basílica fecha. Na impossibilidade de contemplar todos os pormenores e de reconhecer a simbologia e história de cada obra aqui presente, as pessoas abandonam o espaço com maravilha e admiração perante este que é dos poucos sítios com entrada gratuita na cidade do Vaticano.

No exterior, ninguém fica indiferente à Guarda Suíça, autoridade responsável pela segurança do Papa e pelas forças armadas do estado do Vaticano. Com coloridos trajes e sérios rostos, apertando uma gargalhada eminente a qualquer instante, os guardas tornam-se o centro das atenções e alvo fácil dos flash .

Ao caminhar para a saída da Praça, percorrendo o corredor central, facilmente se denota que o amontoado de gente se dissipou. Mas, ainda assim, os poucos que ali permanecem não deixam de se contemplar com a imagem noturna que lhes é propiciada. Seja um local de fé, um centro turístico, ou em espaço de arte, a beleza da Praça de São Pedro é incontornável, e é um dos locais mais conhecidos e visitados da cidade eterna.