Quatro ciclos de programação, 365 dias e mais de 600 eventos culturais. É assim que se “constrói” o programa da Guimarães 2012 que assenta no conceito de residência artística e na produção original feita a partir da cidade com o envolvimento da população local.

O programa foi apresentado ontem, quarta-feira, no espaço ASA, “um espaço simbólico de uma antiga fábrica emblemática para a cidade”, nas palavras de João Serra, presidente da Fundação Cidade de Guimarães (FCG).

Guimarães 2012 propõe impulsionar a valorização do território e do património através da cultura. António Magalhães, presidente da Câmara vimaranense, garante que ainda têm “um trabalho duro” pela frente mas sabe que “a população de Guimarães já se sente parte do que estamos a fazer”.

“Começa agora o ciclo do fazer acontecer”

O projeto remonta a 2006, altura em o governo português submeteu a nomeação da cidade de Guimarães como candidata a capital europeia da cultura em 2012. Quase três anos depois, em maio de 2009, o Conselho Europeu de Ministros da Cultura designa a cidade vimaranense, em conjunto com Maribor na Eslovénia, uma das capitais europeias da cultura em 2012. Uma sucessão de ciclos de trabalho que culminam com o arranque da programação a 21 de janeiro do próximo ano.

Nas palavras de João Serra, começa agora um novo ciclo: “o de fazer acontecer”. Com um “programa coerente”, Guimarães 2012 vai “requalificar a cultura urbana”, diz Carlos Martins, diretor artístico da FCG.

Para Carlos Martins, o programa “assenta na ideia de que o conhecimento e a cultura são essenciais”. Ao longo de um ano, a cidade vimaranense “é a estrela” do programa, mas o diretor artístico lembra que a Guimarães 2012 “é a interpretação de um programa europeu” e não é “autónomo ou apenas português”. Um programa construído “pela cidade real e com pessoas reais”, diz Carlos Martins.

Tempo para a cultura

O programa da Guimarães 2012 está dividido em quatro momentos: “Tempo para Encontrar”, “Tempo para Criar”, “Tempo para Sentir” e “Tempo para Renascer”. São “programações contínuas, mas com ritmos diferentes”. Carlos Martins diz que é preciso “voltar a dar às pessoas e às comunidades os tempos certos”.

Um ano onde o programa se faz do “movimento associativo”. O diretor artístico da FCG lembra que “a cultura não se faz apenas de profissionais nem das classes artísticas, faz-se também da cultura popular”. Guimarães 2012 dá “palco a muitos autores portugueses” e não vai “disputar o mercado dos festivais de música” do país. Por isso mesmo, Carlos Martins garante que não vão “investir um milhão e meio de euros” no concerto dos Coldplay.

Em 2012, Guimarães assume o papel do “maior centro português de criação de cinema”. O diretor artístico garante que estão encomendadas séries documentais e que vão ser lançados concursos para novos criadores.

Aposta na formação artística

Com um projeto extenso, Guimarães 2012 vai também apostar na formação dos novos talentos. Ao longo de um ano, 58 jovens músicos europeus vão viver na cidade vimaranense e criar a partir da “convivência com uma cidade pequena”. Um projeto “polémico” mas que vai “marcar a memória coletiva”, segundo as palavras de Carlos Martins. Há música para todos os gostos, desde ao eletro, sem esquecer o rock ou até mesmo o indie.

O teatro também é peça fundamental no programa e vai dinamizar as praças e ruas da cidade de Guimarães. Ao longo do ano, vão ainda cruzar-se produtos e produtores artísticos da fotografia, da dança, das artes plásticas ou até mesmo da arquitetura. Um programa multidisciplinar que acolhe as manifestações culturais nacionais e internacionais.

Regeneração urbana

Sob o mote “eu faço parte” e com um programa abrangente, a capital europeia da cultura em 2012 vai sofrer obras de remodelação em vários espaços da cidade. São mais de uma dezena de edifícios que vão ser requalificados e construídos de raíz, de forma a tornar Guimarães uma cidade “competitiva e atrativa”.Um investimento total que vai rondar os 48 milhões de euros.

Depois da inauguração do Largo do Toural, na terça-feira, dia 13 de dezembro, ainda são muitos os espaços a ser construídos e requalificados. O mais caro e mais amplo é o Centro de Arte, no antigo mercado municipal, que vai abrir ao público em Junho de 2012.

Vão ainda ser construídos 3 espaços no designado Camp URBIS, o resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal de Guimarães e a Universidade do Minho: o Instituto de Design, o Centro Avançado de Formação Pós-Graduada e o Centro de Ciência Viva. Todos estes projetos vão estar concluídos no final do primeiro semestre de 2012.

Vai ser ainda construída a Casa da Memória, que vai servir de local de encontro e partilha do património vimaranense.

Em dia de apresentação do programa foi ainda inaugurado o local de boas-vindas e de informação da Guimarães 2012. O espaço, na Rua de Camões, vai permitir a consulta da agenda de todo o programa, a reserva de bilhetes e, ainda, a consulta e compra de publicações e vários objetos sobre o evento. O espaço, instalado num antigo edifício da cidade, tem ainda um mini-auditório vocacionada para tertúlias e apresentações.

José Serra lembra que o programa “assenta na cidade de Guimarães” e que não se esquece de “ligar pessoas, lugares e empresas”. Carlos Martins não tem dúvidas: Guimarães 2012 “vai honrar a Europa, o país, os públicos, os artistas, a cidade e os vimaranenses”.