No início era apenas o conceito e a vontade de o concretizar. Entre o querer e o fazer ficou a procura de um nome capaz de albergar portugalidade, ironia e subversão; um portal com a declaração de intenções e o desafio lançado aos seguidores do Facebook para desenhar o logótipo. O nome é Salazar e assume-se sem paralelo no panorama editorial português. Está publicada online desde o passado dia 8 de fevereiro. Não é jornalismo, mas informa; não é datada, mas numerada, e não tem notícias, mas conteúdos.

Salazar tem como missão abordar temas laterais da cultura portuguesa, no mesmo espaço onde divulga novos talentos em ilustração, escrita, fotografia, pintura ou realização. Quer inovar graficamente e falar de temas transversais, passíveis de reflexão. O primeiro número faz coexistir nas suas páginas a “pimbologia” e a poesia, o cinema e a literatura ou o desporto e a música.

Ricardo Miguel Costa e Mónica Matos da Silva, editores e fundadores da revista, contaram ao JPN que idealizaram a Salazar como um espaço que não pretende provocar nem revolucionar, tampouco traçar caminhos, mas que apela à critica e à reflexão sobre temas e autores por meio de uma abordagem irónica e subversiva.

“Queremos uma revista completa, onde os leitores se sintam envolvidos com os artigos, o design, os conteúdos e a escrita dos textos” disse Mónica Silva. Contrário ao clima ditatorial que o nome possa sugerir, Salazar afirma lutar contra a corrente estereotipada e negativista que se instalou no país. “É a revista que sempre quisemos ler”, contou Ricardo Costa.

Vasco Barreto, Pedro Mexia, Lourenço Cordeiro, Bruno Vieira Amaral ou Luis Filipe Cristovão são alguns dos autores que, para Ricardo Costa, exercem boa influência e são sinónimo da qualidade literária dos textos. Apesar das ideologias associadas a cada um dos colaboradores, figuras do jornalismo e da blogosfera portuguesa, a política não é um tema abordado pela Salazar.

A seleção foi guiada pelos gostos pessoais dos editores. “Publicamos quem gostamos e a quem reconhecemos talento”, assegura Mónica Silva. Na Salazar, a qualidade parece ser uma prioridade. O próximo número ainda não tem data de publicação, porque considera-se que escrever devagar é escrever melhor.

Estrada para andar

Após o que consideram uma “calorosa receção online” prepara-se a versão para impressão. “Fizemos um investimento inicial para dar a conhecer a revista e, nas primeiras horas de publicação, começaram a chover encomendas”, revelou Mónica Silva. A revista em papel promete ser um documento para colecionadores e interessados. Os seus conteúdos, não sendo datados, podem ser lidos “hoje ou daqui a três anos”, declara Ricardo Costa.

O primeiro número deixou de fora a publicidade, que será a base futura para garantir a continuidade, aumentar o número de exemplares e ter maior amplitude na distribuição. O que começou com um conceito para uma revista, “rapidamente evoluiu para uma espécie de movimento cultural, que gerou ideias para outros projetos provenientes da área profissional de ambos”, conta Ricardo Costa. Atividades de formação, workshops e educação pela arte são projetos a cargo de Mónica Silva. Já Ricardo Costa teria todo o prazer em editar em Portugal a obra de David Foster Wallace, um lançamento para pequenas tiragens, em projeto, para uma editora de literatura internacional, diz.

O nome Salazar é uma marca forte, que não deixa ninguém indiferente mas, acima de tudo, revelou-se uma boa estratégia de marketing. Polémicas à parte, ler a revista parece se a melhor forma de dissipar a dúvida ou exorcizar o desconforto que o nome possa causar aos mais facilmente impressionáveis.