A formação especializada é, cada vez mais, valorizada pelos empregadores. Apesar disso, na maior parte dos casos, a experiência académica não é suficiente para garantir um lugar no mercado de trabalho. O JPN falou com duas jovens com percursos académicos semelhantes: A diferença reside no facto de uma ter conseguido um primeiro emprego e a outra fazer parte dos 35,4% de jovens entre os 15 e os 24 anos que, no final de 2011, se encontravam desempregados.

Raquel Rodrigues e Florbela Santos acabaram a licenciatura em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) em 2010 e consideram que as áreas de saúde enfrentam as mesmas dificuldades que outras. “Neste momento, nada está imune à crise. Há muitas faculdades, muitos cursos – igualmente nas ciências médicas – e a dada altura não vai dar para escoar toda a gente”, comenta Raquel.

Raquel tem 24 anos e trabalha numa farmácia em Gondomar. Florbela, com a mesma formação, está no desemprego. Ambas têm um percurso académico semelhante. “Não sei se haverá alguma coisa diferente. A nível de currículo, temos coisas muito parecidas. Eu fiz Erasmus, a Florbela fez Erasmus, o nível de curso é o mesmo e nenhuma de nós tinha experiência – além de pequenos estágios extra-curriculares”, explica Raquel.

Durante os cinco anos de curso, as duas jovens procuraram enriquecer o currículo com a participação em programas de mobilidade, em estágios extra-curriculares e projectos de investigação. Florbela participou, ainda, no programa Leonardo Da Vinci, durante três meses em Genebra, na Organização Mundial de Saúde (OMS). “Foi uma oportunidade única e não me arrependo por isso, mas a verdade é que estive três meses fora, o que se traduziu em três meses sem procurar emprego. Se calhar, esse tempo foi um bocadinho crucial”, confessa.

Uma questão de timing

Tanto Raquel Rodrigues como Florbela Santos tiveram a mesma postura pós-licenciatura: procurar emprego, com a certeza de que agarrariam qualquer oportunidade. Florbela continua à procura, desde que se licenciou. “Entrego currículos, vejo todos os dias as vagas de emprego, vou aos sítios (farmácias, empresas). Telefono, mando e-mail, cartas… Tudo o que é possível”.

Raquel considera que se trata, essencialmente, de uma questão de sorte. “Penso que talvez tenha sido o timing, talvez um pouco de sorte. Tenho as minhas qualidades, mas outros colegas também têm. Como eu fiz, várias pessoas fizeram. Eu tive uma oportunidade e agarrei, a outros não surgiu sequer essa oportunidade”, diz.

Ambas reconhecem que a situação tende a piorar e que é cada vez mais necessária uma postura humilde e trabalhadora. Raquel defende que “é um pau de dois bicos: por um lado uma pessoa não se poderia sujeitar, mas por outro tem de trabalhar – principalmente quem está à procura de primeiro emprego. Não nos devíamos sujeitar, porque temos uma profissão, um curso que tem prestígio e devemos ser valorizados por isso. Mas a verdade é que se não temos emprego, não temos a experiência e se não temos a experiência mais difícil vai ser ter outro emprego”. São muitos os estudantes que se sujeitam a condições precárias, quer a nível de estabilidade, quer a nível de vencimento. “Não têm outras opções”, lamenta Raquel.

Atualmente, a formação a nível superior é uma constante em qualquer percurso curricular. As oportunidades são escassas e as práticas académicas semelhantes. “Não sei se o facto da Florbela ter ido para fora tenha atrasado o processo dela. Tem a ver com conhecimentos, disponibilidade”, afirma Raquel.

Para Florbela, “estar na hora certa, no lugar certo” é o que faz a diferença. “Temos de nos sujeitar, procurar, insistir, estar aberto a todas as ofertas, estar disponível para deslocar-se para outras zonas do país, como o interior, que é coisa que eu não considero neste momento”, admite a jovem desempregada.