Apesar de as sondagens lhe darem 16% das intenções de voto na primeira volta, Marine Le Pen, a atual líder da Frente Nacional (FN) e filha de Jean-Marie Le Pen, ainda não conseguiu garantir as 500 assinaturas de eleitos locais imprescindíveis para ir a votos a 22 de abril. Faltam 48 destes apadrinhamentos à candidata que, segundo as últimas sondagens,se encontra em terceiro nas intenções de voto, atrás de François Hollande, candidato socialista, e Nicolas Sarkozy, atual Presidente francês e candidato da União por um Movimento Popular .

A presidente do partido de extrema-direita tem até 16 de março para conseguir todas as assinaturas necessárias.

A somar a esta dificuldade, Le Pen defronta-se com outros obstáculos, designadamente a falta de dinheiro para a campanha e o esvaziamento de parte do seu eleitorado pela entrada na corrida presidencial de Sarkozy, que adotou algumas das ideias da FN, como as teses sobre a imigração. Embora tenha vindo a ensaiar uma estratégia de “desdiabolização” desde que assumiu a liderança da FN, com o objetivo de competir com os partidos clássicos, Le Pen mantém o discurso tradicional da extrema-direita francesa contra os imigrantes e os muçulmanos.

Le Pen acusou, em declarações ao Canal , os restantes partidos de a quererem excluir da corrida presidencial, porque tem hipóteses de chegar à segunda volta. “Sou a única que permite aos franceses uma verdadeira escolha, ou seja, descartar a não-escolha que representam os gémeos siameses Hollande e Sarkozy”, afirma Le Pen. “Continuamos numa democracia? Estamos numa República ou declinámos definitavamente para uma oligarquia em que o povo já não tem escolha?”, questiona.

“Le Pen está a lutar pela sobrevivência”

Segundo Frederico Rocha, investigador adjunto na Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, as declarações de Le Pen enquadram-se no habitual discurso populista do partido que lidera. “[Le Pen] tenta acicatar a população contra uma elite da qual, supostamente, o seu partido não faz parte. No fundo, Le Pen está a lutar pela
sobrevivência”, aponta.

Para o investigador que se dedica ao estudo das correntes políticas de extrema-direita, a renovação da imagem da FN lançada por Marine Le Pen encontrou uma “dificuldade acrescida: o facto de o presidente Sarkozy estar também a apelar ao eleitorado que, à partida, estaria mais sensível ao discurso da FN”. “Ela tem algumas vantagens em relação ao seu pai em termos de imagem, mas o seu discurso continuará sempre a ser o mesmo, porque, antes de partir para outro tipo de eleitorados, tem de ter a certeza que segura o seu e não o perde para Sarkozy”, sublinha o investigador.

Se Sarkozy tiver sucesso na sua viragem à direita, a candidatura de Le Pen, caso consiga as 500 assinaturas de eleitos locais, “não terá grande possibilidade de passar à segunda volta”, remata Frederico Rocha.