A criação de uma rede alternativa à Internet vai mesmo ser uma realidade no Irão. A ideia é confirmada pelo ministro das Comunicações iraniano, Reza Taghipour, citado pela agência noticiosa iraniana ISNA. O ministro afirma que “a Internet é, na sua essência, uma rede insegura” e que a criação de uma “rede segura” permite a troca de dados dentro do governo sem necessitar de recorrer à Internet.

Taghipour garante que os iranianos vão poder continuar a utilizar a Internet como complemento à nova rede nacional de informação, para um “uso genérico ou para a receção de dados que não estejam disponíveis na rede nacional”. A nova web irá utilizar “software desenvolvido a nível local”, acrescenta.

Apesar desta ideia de liberdade que o governo procura transmitir, Teresa de Almeida Silva, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (ISCSP), afirma que esta medida “permite ao Irão controlar a informação e difundir o que quiser dentro do país sem que o exterior saiba”, o que pode aumentar ainda mais a desconfiança do mundo ocidental em relação ao país.

Além disso, as pessoas que não têm acesso à Internet “não sabem o que se passa lá fora”, acrescenta a docente. Sérgio Nunes, professor de Sistemas de Informação na Faculdade de Engenharia da UP e especialista em redes e comunicações, concorda e lembra que este caminho “já foi seguido (com sucesso) por outros países, como por exemplo Cuba, a Coreia do Norte, ou mesmo a China”.

A censura da Internet por parte do Irão tem aumentado

Esta ideia não é nova e já há algum tempo que a possibilidade foi posta em cima da mesa, mesmo antes do anúncio feito pelo governo iraniano em março de 2011. É conhecida a censura por parte do executivo iraniano a diversos sites, muitos dos quais utilizados por ativistas opositores do regime, sendo que vários deles foram presos nos últimos anos. Ainda recentemente, poucas semanas antes das eleições parlamentares de 2 de março, o governo bloqueou o acesso a motores de pesquisa como o Google e vários serviços de e-mail.

O Irão foi o primeiro país do Médio Oriente a introduzir a Internet, mas ainda é necessário obter autorização do Estado para poder aceder à web. Estimativas do governo apontam para cerca de 23 milhões de cibernautas no país, um número considerável e cada vez mais difícil de controlar. Por isso mesmo, esta medida parece ser o início de um controlo absoluto por parte do executivo iraniano do acesso à informação no país, embora seja difícil assumir a viabilidade deste projeto.

Teresa Silva assume que “não é difícil que o governo consiga aplicar esta alteração”. A verdade é que o executivo iraniano tem condições e meios suficientes para “condicionar o acesso dos cidadãos à informação exterior e impor esta nova intranet”. Lembrando o que aconteceu no Egito, a professora do ISCSP diz, no entanto, que “é possível que haja alguém que fure essa proibição e consiga chegar a sites interditos”.

Sérgio Nunes defende que construir uma rede de comunicação semelhante à Internet é perfeitamente possível e que “seria como cortar a ligação à entrada de uma sala de computadores. Os computadores poderiam continuar a comunicar uns com os outros, mas a ligação ao exterior, e consequentemente à Internet, seria impossível”.

Inicialmente, apenas algumas instituições, como bancos ou grandes empresas, podem ter acesso a esta Internet paralela. Mas o objetivo é que, progressivamente, toda a gente se “converta” à nova rede. Contudo, é difícil prever a reação da população a esta ideia, já que nos últimos anos, apesar da censura apertada, o acesso à web tem aumentado exponencialmente e são já muitos os que dependem da Internet para obter informação livre e variada.