Durante onze anos de funcionamento, o pequeno teatro Estúdio Zero recebeu inúmeros espetáculos, desde produções apoiadas pelo Teatro São João a produções de “As Boas Raparigas”, companhia responsável pela gestão do espaço. Com o corte de 38% no orçamento, surge a necessidade de diminuir as despesas.

“Manter o espaço é impensável. Ficamos com 36 mil euros para fazer programação e somos uma estrutura produtora. O pouco dinheiro tem de ser suficiente para fazer duas produções novas”, explica a diretora de programação e atriz de As Boas Raparigas, Carla Miranda.

O aumento dos custos associados já se fazia sentir com a subida exponencial do preço da luz. “O que aconteceu agora foi algo que é transversal a todas as estruturas e vai, com certeza, afetá-las. Este corte não estava previsto”, refere.

A companhia procurou associar-se a outros grupos, no sentido de manter o Estúdio Zero aberto. “Tentamos, no imediato, falar com todas as estruturas aqui da cidade para perceber qual era a disponibilidade delas para tentarmos ficar com o espaço entre nós. Houve duas que se mostraram interessadas, mas o orçamento deles também levou um corte. Por isso, quando começamos a fazer contas, percebemos que ia ser impossível.”, lamenta Carla.

As Boas Raparigas abordaram, ainda, empresas privadas, na esperança de encontrar o apoio necessário. “Todos os anos fazemos uma carta a pedir um envolvimento junto de algumas empresas que trabalham connosco. A partir de certo momento é possível conseguirmos algum apoio, neste ano não foi. Toda a gente recuou”, comenta.

Um teatro intimista na cidade do Porto

O Estúdio Zero é um espaço de referência na cidade do Porto que se caracteriza pelo ambiente intimista. “O espaço era e é único: é um ‘teatro de bolso'”, diz, acrescentando que este “é bastante intimista”, permitindo “espetáculos com alguma preponderância da palavra”, um trabalho mais específico”, descreve Carla.

O pequeno teatro, com 62 lugares, permitia uma proximidade que não é possível em grandes salas. “É um pouco como estarmos numa sala de cinema: o ecrã é muito grande e sentimo-nos levados e puxados para dentro da tela. Exige um nível de concentração e um nível de entrega que é maior do que o habitual”, explica a responsável.

A diretora de programação considera que se perdeu um espaço único na cidade, quer pelas características singulares do espaço, quer pelo investimento feito, que não será recuperado. “Não é intimista por uma questão de estruturas: é um tipo de trabalho muito objetivo, é uma estética. Há espetáculos que se perderiam num espaço como o Teatro Nacional de São João ou o Teatro Carlos Alberto“, acrescenta.