O Espaço Coletivo Autogestionado do Alto da Fontinha (Es.Col.A ) nasceu em abril de 2011, sob o lema “liberta espaços, cria alternativas”. O projeto consiste na dinamização cultural e social do Alto da Fontinha e é colocado em prática através da organização de atividades diárias, destinadas a pessoas de todas as idades, que vão desde o yoga às oficinas de música, passando pelo apoio na Língua Portuguesa ou pelas aulas de capoeira. A iniciativa reúne o apoio crescente de vários voluntários e simpatizantes e funciona sem fins lucrativos.

Após um mês de ocupação da antiga escola primária do Alto da Fontinha, a Câmara Municipal do Porto (CMP) decidiu emitir uma ordem de despejo, concretizada em maio do ano passado. Na altura, a intervenção policial resultou na detenção de sete pessoas e numa forte contestação por parte de populares. Ainda assim, no início de julho de 2011, o atraso no projeto que a CMP escolheu para a reabilitação do edifício, além da mobilização dos moradores do bairro, culminou na cedência temporária do espaço ao Es.Col.A. Como condição, o Es.Col.A teria de se registar como associação, para assinar um contrato de cedência do espaço. No entanto, já em fevereiro deste ano e depois do cumprimentos desses requisitos, a CMP anunciou o fim do período de cedência. Os “okupas” têm ordens para abandonar a antiga escola até dia 31 de março.

Tal como aconteceu no ano passado, os responsáveis pelo projeto lutam contra a decisão da autarquia. A carta aberta à Câmara Municipal, de 14 de fevereiro, encontra-se espalhada por vários sítios da cidade e está disponível no site do Es.Col.A. No entanto, não é apenas isso que está a ser feito para evitar o fim do Es.Col.A. Às 18h30 de hoje, sexta-feira, decorre o “MobYoga”. A iniciativa, que terá lugar em frente ao edifício da CMP, pretende mostrar à cidade a força das atividades que são organizadas por aquele grupo de pessoas e tem como lema: “Vamos levitar a Câmara”.

“Não se pode despejar uma ideia”, dizem os voluntários do Es.Col.A

Um dos voluntários do Es.Col.A esclarece que a CMP sempre se mostrou “muito distante” para resolver a situação. “Temos feito um esforço muito grande para comunicar com a Câmara, mas a verdade é que nunca esteve aqui um funcionário, nem apenas para ver”, revela. “Para já, decidimos ficar e não entregar as chaves. Achamos que temos toda a legitimidade de estar aqui e a nossa defesa são as atividades que aqui organizamos e a que ninguém consegue resistir”, garante.

Esta posição surge até porque os voluntários não fazem “a mínima ideia do projeto que está planeado para aqui”. “O que até nos faz duvidar que a Câmara tenha realmente uma alternativa”, assegura. Confrontados com a possibilidade de terem de abandonar definitivamente a antiga primária, os voluntários não têm dúvidas. “O projeto, como está agora, pode parar. Mas as pessoas não vão parar. Não se pode despejar uma ideia”, salientam.

Para José Lino, morador no bairro, são os “miúdos de rua” os mais prejudicados com a situação. “A junta continua a fechar os ATL. Referi na própria assembleia municipal que temos aqui gente capaz e sem encargos nenhuns para a Câmara. As crianças podem usufruir do espaço e de apoio educativo, evitando que andem na rua”, diz o natural do Bairro da Fontinha. “A população do bairro e do Porto está a envelhecer e fechar espaços como estes significa cortar as asas a esta nova geração”, acrescenta.

José Lino fez parte de várias coletividades da freguesia e da cidade, mas aponta esta como “um verdadeiro exemplo”. “Aqui trocamos ideias e recebemos gente de todo o lado. Não há diferenças, sente-se que somos todos iguais. É um ambiente extraordinário e de grande riqueza cultural”, garante. “Esta é a desorganização mais organizada que conheço, mas como não se faz dinheiro, a Câmara não quer saber”, conclui.