O descontentamento é grande entre as pessoas que frequentam o largo da Lapa, no Porto. O novo ordenamento do trânsito é motivo de conversa na rua, nos cafés e entre os moradores.

A questão da passadeira é, neste momento, a mais apontada na discussão. A passadeira mudou de sítio e está agora imediatamente abaixo de um entroncamento, assim como não está alinhada nos dois lados da faixa de rodagem que liga o Hospital da Lapa à igreja da Lapa, sendo preciso deslocar-se ao longo de um separador central.

“Puseram a passadeira em baixo e se vier um carro do entroncamento à direita vai prestar atenção aos carros que vêm de cima, não às pessoas”, aponta José Sousa, dono de um talho na Lapa. Também Sérgio Pinto, proprietário de um cabeleireiro na zona, refere que as “as passadeiras estão descoordenadas”, o que põe os peões em risco.

Sérgio aponta ainda o facto de terem diminuído o lugar para os estacionamentos, assim como a impossibilidade de fazer inversão de marcha. “Os nossos clientes reclamam, não há estacionamentos, não podem inverter a marcha e há um espaço em zebra que não faz qualquer sentido”, afirma o cabeleireiro. Fernando Soares, cliente do cabeleireiro, corrobora: “isto não tem pés nem cabeça. Alguem projetou isto completamente de maneira errada”. Fernando afirma ser lamentável que, numa situação de crise, “quando é necessário poupar gasóleo, façam isto”. “Temos que andar às voltas”, queixa-se.

Paula Pinheiro, 42 anos, proprietária de uma florista na Lapa, vai mais longe. “Há necessidade de transgredir se for preciso fazer carregamentos. Há estacionamentos no meio da via, as pessoas saem do carro diretamente para a faixa de rodagem”, afirma a florista.

Além da segurança, perigo de saúde pública

Quanto aos lugares de estacionamento, por serem em posição oblíqua relativamente à rua, Paula considera que “tirar o carro do lugar é uma roleta russa”, numa rua com pouca visibilidade em que os carros passam a relativa velocidade. Além disso, a florista considera que os estacionamentos que desapareceram “eram uma mais valia da Lapa para o comércio”.

Porém, para Paula Pinheiro há outros problemas na nova situação da Lapa. “Acima de tudo põe em perigo a segurança das pessoas e a saúde pública”, acusa. “Não é só a questão do estacionamento nem da passadeira, é também a da colocação dos equipamentos de recolha de resíduos sólidos”, problemática devido à questão “de cheiro, as moscas, as gaivotas, a falta de civismo das pessoas”, exemplifica. Também José Sousa menciona o problema da recolha de resíduos. “Os caixotes do lixo estavam encostados à parede do cemitério, vieram para a frente dos estabelecimentos e de casas particulares”, afirma.

Moradores e comerciantes subscreveram, entretanto, um manifesto, com 150 assinaturas, entregue em Assembleia Municipal na Câmara Municipal do Porto, na passada segunda feira, 12 de março. O manifesto considera que o novo ordenamento expõe “veículos e ocupantes a perigo desnecessário”. O cabeleireiro Sérgio Pinto, um dos que subscreveu o abaixo assinado, espera que “Rui Rio tenha consciência do que está mal, que está a prejudicar o comércio nesta rua.”

Ana Pereira, deputada do Bloco de Esquerda no Porto, foi uma das princiapais vozes no manifesto entregue na Câmara Municipal do Porto. Rui Rio admitiu algumas incongruências e sugeriu à deputada Ana Pereira que expusesse o caso às entidades competentes.