Os árbitros podem ter uma enorme influência nos jogos e provas a que assistem, o que normalmente despoleta pequenos ódios e alguns galhardetes. Mas a verdade é que os “pequenos homens axadrezados” são muitas vezes ex-atletas que têm uma verdadeira paixão pela modalidade e dão muito de si em cada prova.

Bárbara de Sousa é exemplo disso. Com 22 anos, frequenta o mestrado de Educação Física na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e começou na ginástica aeróbica aos 17 anos. Aos 18, foi aconselhada pela treinadora a tirar o curso de juíza, porque “os atletas devem saber a forma como são avaliados”. E resultou. “Quando saía já sabia mais ou menos a nota que ia ter”, afirma.

João Barata e Daniel Soares não se conhecem, mas têm muito em comum. Ambos com 20 anos, frequentam o curso de Ciências do Desporto, também na FADEUP, e são árbitros de futebol por acaso, apesar de Daniel ter mais experiência e já ter apitado encontros internacionais e com árbitros da Primeira Liga. A diferença é que João Barata jogou futebol durante 10 anos e Daniel só pratica atletismo – do qual também tem curso de árbitro, apesar de quase não exercer. No entanto, ambos concordam com Bárbara. “Se já praticaste a modalidade ficas com outra noção do jogo e das regras. É mais fácil compreender algumas atitudes dos jogadores”, corrobora João.

“Ajuizar tem um gosto especial”

A exercer há três anos, Daniel diz que apesar de “ser cansativo”, é uma coisa de que “realmente gosta” e acaba por lhe dar uma outra noção de responsabilidade. Bárbara também acredita que ajuizar, “além de não ser nada fácil, desenvolve muitas capacidades”, como a de decorar ou de ser multitasking. Atualmente nem tem dúvidas do que prefere. “Ajuizar tem um gosto especial”, garante.

Já João não consegue escolher e diz mesmo que ser árbitro também tem alguns contras, com os quais Daniel também concorda. “Há muita pressão. No início era um bocado difícil para mim estar com atenção ao jogo enquanto tinha de ouvir algumas bocas”, afirma João.

Sem estigmas: os árbitros também erram e nem sempre reina a imparcialidade

Bárbara reconhece, no entanto, que a arbitragem no geral é muitas das vezes ambígua e existem parâmetros que “dependem do nível pessoal”, o que pode ferir algumas susceptibilidades. “Na ginástica, por exemplo, quem manda é o superior e nem sempre o superior é neutro”, explica.

João é o meio termo. Acredita que existem erros e, no seu caso, tem noção de que tomou “algumas decisões incorretas, mas nunca com a intenção propositada de prejudicar uma equipa”. Já Daniel acredita na parcialidade e, diz, ele próprio costuma “ser mais exigente” quando se trata da sua equipa: o Futebol Clube do Porto.

Modalidades universitárias devem ser arbitradas com o mesmo rigor que as federadas

Esta questão da parcialidade coloca-se ainda mais no desporto universitário, no qual Daniel já apitou, uma vez que muitos dos jogadores são conhecidos dos árbitros. João parte do princípio que “os universitários sabem estar dentro de campo, o que nem sempre se verifica num campeonato distrital” e que, por isso, a arbitragem universitária seria “uma boa experiência”. Mas Daniel sabe bem que as coisas não funcionam assim. “Como já nos conhecem, abusam” e torna-se complicado “manter o controlo”, afirma.

Ainda assim, para o estudante da FADEUP esse não é dos maiores problemas, mas a falta de seriedade com que é encarado o campeonato universitário “que ainda por cima é nacional”. Esta aparente falta de empenho e seriedade das equipas leva mesmo Daniel a ter mais paciência e a ter de adoptar “critérios mais largos”.