Numa viagem pela história da televisão em Portugal e no mundo, Eduardo Cintra Torres traçou o percurso do meio de comunicação que surgiu para as massas, visto em locais públicos, e que acabou por, nos anos 30, 40 e 50, se tornar num meio de comunicação para a família.
De acordo com o professor da Universidade Católica Portuguesa, o surgimento das televisões privadas na Europa alterou a relação dos espetadores com o meio de comunicação, ao introduzir interesses comerciais. Ao mesmo tempo, o aparecimento dos canais por cabo e a associação da televisão às novas tecnologias trouxeram profundas alterações ao conceito de televisão.
Eduardo Cintra Torres defende que a televisão “são os conteúdos” e não as entidades representativas dos principais canais. Numa análise do panorama televisivo nacional, o autor de programas de televisão e de rádio afirmou que, “hoje em dia, a TV generalista é bastante fraca”, uma vez que “estamos em crise e, portanto, há menos 70 milhões de euros disponíveis para os canais do que havia há dois ou três anos”.
O serviço público e a atualidade televisiva
Para Eduardo Cintra Torres, o serviço público deveria ser constituído por “conteúdos que os privados não podem nem querem fazer e que, portanto, nós, como cidadãos, nos disponibilizamos a dar um pouco dos nossos impostos para que eles sejam produzidos”. “Não vai haver mais conteúdos vistos por toda a gente” e o mais importante “é que o conteúdo existe e que atraiu um determinado número de pessoas”, defende o autor de “A Televisão e o Serviço Público”.
O professor da UCP acrescenta ainda que, atualmente, a televisão enfrenta um grande problema, pois “quanto mais canais por cabo existem – e os mais idosos, que só viam um canal ou dois, vão morrendo -, mais desce a audiência da televisão generalista. Ao diminuir a audiência da televisão generalista, vão diminuindo as receitas”, logo há “menos dinheiro para programas”.
Eduardo Cintra Torres caracteriza esta situação como um “processo inevitável” e defende que, “dentro de 10 anos, os canais generalistas vão ser irrelevantes do ponto de vista social e estético”.