O projeto “Estudantes por Empréstimo” nasceu em 2009 da vontade de um grupo de estudantes do ensino superior. O objetivo é criar uma peça de teatro em que os estudantes se possam rever e debater os seus problemas.

Amarílis Felizes, estudante de Teatro – Direcção de Cena e Produção na Escola Superior de Música e Artes do Espétaculo (ESMAE), explica que o teatro oprimido “é uma metodologia criada por um dramaturgo brasileiro que usa o teatro para discutir as mais variadas questões e problemas”. Os criadores pretendiam que o grupo usasse o teatro oprimido “para fazer sugestões legislativas na Assembleia da República”.

Assim, o passo seguinte foi criar uma peça de teatro que pusesse em cena os problemas mais eminentes de um estudante do ensino superior. “Uma peça que reflectisse as problemáticas que ainda subsistem – a questão da falta de bolsas, o elevado custo do ensino superior e o facto de muitos estudantes serem empurrados a fazer empréstimos que não sabem como vão pagar com a atual situação”, enumera a jovem de 21 anos.

Ser pró-ativo no mundo artístico

Amarílis refere que “não há uma visão de investimento nas artes” e que, por razões como essa, a ESMAE esteve praticamente parada em dia de greve geral, uma vez que os estudantes se deslocaram à reitoria da Universidade do Porto para reivindicar. A jovem faz parte da Associação de Estudantes da ESMAE e está convencida de que é necessário “divulgar e falar para perceber o que pode ser feito”. Amarílis afirma que “é impossível desligar” de outras iniciativas em que participou, como é o caso do “Estudantes por Empréstimo”.

A jovem realça a necessidade de fazer perceber que o conceito de que “a universidade é para quem pode, não é para quem quer” não deve ser admitido e que os jovens se devem reunir na luta pelas causas que defendem.

Chegar a outros públicos num movimento itinerante

O “Estudantes por Empréstimo” esteve, durante algum tempo, em “digressão”, tal como uma companhia de teatro itinerante, para chegar a todas as instituições do ensino superior. “Ir às escolas, mostrar a peça, debater, fazer um teatro-fórum, com o público a substituir uma personagem e tentar resolver o problema na peça” era o mote do grupo de alunos que integrou o programa que chegou a dois mil estudantes. Nas atuações eram distribuídos papéis aos estudantes que assistiam para que “fizessem sugestões de alterações na lei”, explica Amarílis.

Chegar aos estudantes foi mais fácil através das associações de estudantes de outras instituições universitárias e as demonstrações da peça tiveram uma boa recepção. Amarílis conta mesmo que existiram “discussões muito votadas” e que o sucesso não dependia do número de pessoas presente mas sim da sua posição perante a peça. “Estivessem 60 pessoas, estivessem 20, éramos bem recebidos porque as pessoas reviam-se nos problemas”, exemplifica a jovem.

“Nós expomos os nossos problemas e as pessoas começam a discutir os problemas que fazem parte da história deles, da nossa história que é comum”, acrescenta.

Como projeto de teatro legislativo pioneiro em Portugal, o “Estudantes por Empréstimo” foi levado à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda. Amarílis confessa que a “componente legislativa é importante” num projeto de si mesmo “mobilizador”. Todas as pessoas que viram a peça foram convidadas a ir à Assembleia da República assistir ao debate.

Na sessão surgiu uma petição que as Associações de Estudantes levaram de volta para as escolas. A petição foi entregue ao Jaime Gama e discutida posteriormente. Amarílis admite que “muitas das coisas não mudaram” mas que o facto de “existir uma lei que estabelece um prazo limite para a divulgação das bolsas” é importante e que, de alguma maneira, o projeto contribuiu para isso.