Quem abre uma pequena galeria pelo gosto à arte enfrenta agora dificuldades para sustentar o negócio. Enquanto os compradores milionários continuam a investir em coleções de renome, os espaços de exposição locais servem maioritariamente para um encontro entre artistas e público – muitas pessoas a visitar mas poucas a comprar.
João Esteves de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Galerias de Arte (APGA), explica que o comércio de arte em Portugal “não é de todo rentável”. “O mercado está afetado pela crise. Não drasticamente, mas está”, afirma. No entanto, o presidente da APGA concorda que a arte portuguesa continua a ser valorizada, uma vez que “há colecionadores que continuam presistentes e interessados”.
É a inovação e criatividade dos novos artistas que contribui para contrariar esta tendência.
Segundo João Esteves de Oliveira, “os artistas emergentes são mais contemporâneos e atraem pessoas jovens que encontram mais afinidades nesse tipo de arte”, fatores que se aliam também a preços mais acessíveis. Os compradores deste tipo de arte são “pessoas que começam a comprar aos 30 anos, quando ganham alguma independência e são mais virados para a arte contemporânea e para valores emergentes”, diz Esteves de Oliveira.
Para já não há apoios diretos ao comércio de arte em Portugal, como diz João Esteves de Oliveira. “Há um protocolo, assinado no ano passado com a então ministra da Cultura, para três anos, e que prevê o apoio a galerias que levam os seus artistas a determinadas feiras no estrangeiro” acrescenta.
As pequenas galerias do Porto
O panorama entre os negócios locais de comércio de arte é semelhante. Júlia Pintão, 64anos, dona da galeria “Esteta”, explica que, nos dias que correm, “o galerista é que tem de suportar a galeria e não o contrário”. Ema Ribeiro, 38 anos, confessa que o seu pequeno negócio, a “Ó Galeria“, “é sustentável mas não tem lucro, ou seja, paga as desespesas e paga aos autores, o que já é muito bom”.
Arlete Alves da Silva, diretora da Galeria 111, cuja sede se situa em Lisboa, explica a crise que afeta este setor com o facto de “as novas gerações, entre os 25 e 35 anos, que deveriam estar a renovar a classe compradora, ou não têm trabalho ou emigram”. “No Porto, esta situação é particularmente sensível”, afirma.
Estes galeristas de pequenas dimensões notam, no entanto, um crescimento na curiosidade dos portugueses relativamente à arte. Os visitantes são de todas as idades, mas os compradores pertencem apenas à classe média, pessoas que “têm gosto pela arte, não têm grandes fortunas, vivem de salários médios, como professores e engenheiros”, como explica Júlia Pintão.
Vânia Teixeira, de 22 anos e colaboradora da galeria “Papa-livros” – uma galeria direcionada para crianças – explica que ser alternativo e ter opções de disposição e iniciativas diferentes são as razões de uma maior atenção por parte do público. “Tentamos criar eventos de maneira a que a crise não nos afete”, afirma Vânia. Já Júlia Pintão é da opinião que, para sustentar uma galeria que não gire à volta do comércio, “é preciso ter um suporte financeiro muito grande e mexer, provavelmente, com lobbys e setores” distintos em que ela própria nunca se aventurou.
O especial caso de Miguel Bombarda
A rua Miguel Bombarda, no Porto, é irrefutavelmente o maior pólo de concentração de galerias na cidade. As inaugurações simultâneas, ao sábado, de 40 em 40 dias, geram uma multidão nesta e noutras ruas circundantes.
Ema Ribeiro explica que este evento, “juntamente com a animação de rua e com as atividades organizadas, mobilizou um público completamente diferente daquele que era habitual nos anos 90 e no ínicio de 2000”. Atualmente, o Centro Comercial Bombarda, aberto recentemente, recebe também ele centenas de visitantes, principalmente ao fim de semana. “A galeria perderia alguma visibilidade se não estivesse na entrada do centro comercial. Aqui estamos a ter a visibilidade que era pretendida”, diz Ema Ribeiro.