Há uma nova aplicação que permite prever onde vão estar os clientes de táxi na próxima meia hora. A ideia está a ser desenvolvida pelo Instituto de Telecomunicações, no pólo da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), em conjunto com investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e da Universidade de Aveiro.

Aplicação pode estar pronta já em setembro

Embora não se possa falar em datas concretas, Luís Matias estima que o sistema de previsão vai estar pronto em setembro. Quanto à produção do software, vai ser construída uma versão de teste para aferir a reação dos motoristas de táxi à aplicação, que deverá estar disponível no final de 2012.

Esta iniciativa surgiu no âmbito dos projetos DRIVE-IN (Distributed Routing and Infotainment through VEhicular Inter-Networking) e MISC (Massive Information Scavenging with Intelligent Transportation Systems) e resulta de uma parceria internacional entre a Fundação para a Ciência e Tecnologia e uma universidade nos EUA.

Mais de 60% dos táxis do Porto vão poder beneficiar da nova aplicação, uma vez que o projeto se apoia numa cooperação entre a Geolink, empresa de sistemas de geoposicionamento, e a RadiTaxis, companhia que detém 441 dos 726 táxis da cidade.

Trata-se de um “casar de necessidades da RadiTaxi e do projeto”, explica Michel Ferreira, professor no Departamento de Ciência de Computadores da FCUP e investigador responsável pelo Instituto de Telecomunicaçoes, que tutela a investigação. A Raditaxi precisava de um sistema eletrónico de despacho de viaturas e a Geolink respondeu a essa necessidade, instalando cerca de 500 computadores de bordo, necessários à investigação.

Nova funcionalidade assenta no sistema digital existente

A nova aplicação vai estar integrada no sistema digital já existente nos táxis e, por isso, não terá qualquer custo para a RadiTaxi, que, com a novidade, pretende aumentar o número de clientes. “O sistema eletrónico de despacho é uma revolução neste funcionamento”, afirma Michel Ferreira. “Os carros estão permanentemente ligados a um computador, através de um sensor por satélite, e a comunicação com a central deixa de ser por voz e passa a ser digital”, acrescenta.

Com a nova funcionalidade, será possível prever o número de serviços em cada praça, vertente em que Luís Matias, especialista em computação e inteligência artificial da FEUP, está envolvido. “Pretende-se prever a procura de táxis para a próxima meia hora, ou seja, quantos táxis vão ser pedidos, quer na praça, quer via central”, explica.

Baseada em padrões de consumo e regularidades semanais e com recurso a estudos estatísticos, a investigação pretende determinar qual a paragem mais proveitosa para os motoristas de táxi.

Além de fatores de decisão como menor tempo de espera para passageiros ou proximidade e relação distância/custo, episódios esporádicos que possam influenciar a procura, como jogos de futebol ou greves de transportes, vão ser tidos em conta.

O programa só faz previsões para 30 minutos, mas “através da informação apreendida nesse período”, está constantemente a ser atualizado. “Tudo em tempo real”, acrescenta Luís Matias.

Taxistas divididos

Uma dessas paragens é a dos Clérigos. Sentado dentro do carro, no quarto lugar da fila, o condutor do táxi n.º 655 prefere confiar no seu instinto e nos clientes habituais e, por isso, considera que a aplicação da FEUP não traz qualquer vantagem para o exercício da profissão. “O nosso sistema já é suficientemente avançado. Não precisamos disso”, justifica.

Já Alexandre Guimarães, há 25 anos atrás do volante de um táxi, vê a ideia com bons olhos. “Não sabia disso e acho que vai ser vantajoso, mas também é preciso ver que há clientes que ligam e depois desistem”, adverte.

Advertências à parte, o motorista afirma que “se estivesse nas Antas, por exemplo, e soubesse que, daí 15 minutos, ia cair um serviço, ia ser bom”. “Mas fora da cidade, é ainda mais vantajoso”, conclui.

Atualização do artigo “Taxis: Nova aplicação da FEUP prevê onde estão os clientes