No número 70 da Rua das Oliveiras, no Porto, encontra-se a Poetria, a única livraria do país exclusivamente dedicada à poesia e ao teatro. Abriu no dia 31 de maio de 2003 com a intenção de concentrar numa só livraria a especialização de poesia mas, com a proximidade do Teatro Carlos Alberto (TeCa) e da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), a presença de obras dedicadas ao teatro tornou-se indispensável.

A especialização foi a “forma de combater a globalização” existente nas maioria das livrarias, as mais “tradicionais”, esclarece Dina Ferreira da Silva, uma das sócias da Poetria. Enfrentar o mercado com duas áreas pouco exploradas afigurou-se como “uma forma mais interessante” de rentabilizar o negócio.

Dina Ferreira da Silva conta que o projeto inicial “era mais ambicioso”, ao enquadrar “o comércio de livros e de outros produtos ligados à literatura” com “uma parte de acolhimento em termos de gastronomia”, onde seria possível “criar um escape para acolher as pessoas com um cafézinho e uns bolos”, explica. Mas o fundo financeiro disponível para levar o projeto nessa direção não era suficiente. A ideia de um espaço mais polivalente, que permitisse construir um ponto de encontro entre as pessoas, a poesia e a literatura, necessitava de um espaço diferente, maior e de “uma diversidade de produtos que viessem ajudar a superar as dificuldades em venda”. A ideia inicial nunca chegou a sair do papel.

Na prática, a Poetria oferece um leque variado de produtos, desde t-shirts de coleção, cadernos Moleskine, marcadores de livros e até sabonetes Cleo, entre outros pequenos objetos de autor. E apesar de não ter poesia em línguas estrangeira, é local de culto de alguns turistas que procuram essencialmente Fernando Pessoa. Desde poesia da Idade Média, a uma secção de antologias e outra de poesia estrangeira traduzida, na Poetria é até possível encontrar obras de pequenas editoras, difíceis de encontrar em livrarias generalistas.

A livraria tem grandes dificuldades financeiras

A Poetria é uma livraria muito especializada, “com um grupo de consumidores específico” mas, apesar de verificar “um aumento de novos clientes”, Dina Ferreira da Silva garante que tal não é suficiente para garantir estabilidade financeira ao negócio. “Até agora temos tido bastantes problemas e, por duas ocasiões, já estivemos para fechar a livraria”, lamenta.

A primeira grande crise foi em 2006, cuja solução passou por mostrar aos clientes as dificuldades por que estavam a passar. “Através da nossa mailing list informámos as pessoas do que estava a acontecer”, fazendo um “último apelo para que as pessoas viessem comprar nem que fosse um único livro”, explica Dina. E foi esta a salvação da livraria. As pessoas mostraram “muita solidariedade e apoio”, o que permitiu à Poetria pagar algumas dívidas que tinha na altura e ganhar algum alívio financeiro.

Mas a situação não se manteve estável por muito tempo. Quando uma das sócias se foi embora, a livraria esteve, novamente, muito perto de fechar. Dina Fereira da Silva conta que só o aparecimento de “outra pessoa que quis abraçar o projeto e injetou algum dinheiro” permitiu superar mais essa fase difícil.

Neste momento, a Poetria continua “com sério risco de fechar”, talvez a curto ou médio prazo. “O futuro está bastante comprometido porque é muito difícil cobrir as despesas e ter viabilidade económica”. “A livraria não vai conseguir ficar ativa por muito mais tempo”, garante.