A Câmara Municipal do Porto (CMP) aprovou, na terça-feira, novas regras para a movida portuense. As regras pretendem diminuir as queixas dos moradores que diariamente lidam com o barulho daqueles que difrutam a vida noturna da Baixa do Porto. Os bares e cafés fecham às 02h00 durante a semana e às 04h00 ao fim de semana, mas os moradores mostram-se céticos.
A travessa de Cedofeita, conhecida pelo bar “77”. atrai centenas de pessoas. Além da diversão noturna, vivem nesta rua habitantes revoltados com a situação. Carlos Costa, 44 anos, morador e dono de um negócio na travessa, explica que “numa travessinha com 100 metros de comprimento há sete bares”.
Maria Manuela Pereira é conhecida na sua rua como a pessoa mais envolvida na polémica da diversão noturna. Apresenta queixas frequentemente à polícia e à CMP, mas as responsabilidades são passadas de uma autoridade para a outra. Com 74 anos, a moradora explica que “há quatro anos que só se pode dormir no domingo à noite”.
As pessoas queixam-se, também, da violência e da sujidade. Manuela Pereira relembra o icidente em que um indivíduo foi esfaqueado e morto na rua onde vive há 52 anos. Alberto Rosa, de 54 anos, morador da praça Parada Leitão, conhecida pelo “Café Piolho”, explica que este é um sítio onde se juntam “pessoas com dificuldades, que andam metidas na droga” e que, por isso, “de vez em quando há roubos e desentendimentos”.
A ação da CMP
Os moradores e comerciantes queixam-se da falta de atenção que é dada pela (CMP) à situação. A carência de um departamento de urbanização, que organize a cidade de forma a que habitações se situem perto de zonas de diversão noturna com muita afluência, a fraca vigilância destas zonas e a limpeza insuficiente são as principais reclamações dos moradores.
Alberto Rosa explica que, por morarem poucas pessoas nestas zonas, a Câmara não se preocupa o suficiente com a situação. “Na Câmara, atendendo ao número de pessoas que moram aqui, deram prioridade à diversão noturna”, entende.
Inês Pereira, de 24 anos e reponsável pela loja “Colectus” na travessa de Cedofeita, explica que o panorama é pior ao sábado de manhã, uma vez que, muitas vezes, “às 10h00, a rua ainda não está limpa”. A limpeza “podia ser melhorada, até porque têm passado cada vez mais turistas na rua”.
A reação dos bares
A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) receia que a nova regulamentação do funcionamento dos bares afete não só o negócio em si, como também a própria sociedade.
António Fonseca, presidente da ABZHP, é da opinião que estas mudanças “não resolvem, em circunstância alguma, o problema”. Pelo contrário, vão agravar a situação”, diz. Na opinião do presidente, a nova legislação não só coloca em risco os negócios e os postos de trabalho, como arrisca a que a Baixa do Porto volte a ter um “rosto desertificado”. “Esta situação vai acabar com a referência turística em que a noite na Baixa do Porto se tornou”, afirma.
António Fonseca acrescenta, ainda, que “a Câmara vai contribuir para o aumento do fenómeno do ‘botellon'”, que consiste na compra de bebidas alcoólicas mais baratas e em maiores quantidades, para consumo na rua. Numa fase em que o governo está perto de mudar a idade de permissão de consumo de bebidas alcoólicas, o encerramento dos bares vai provocar, segundo o presidente da ABZHP, uma diminuição do controlo dessas situações.
Eugénia Rebelo, de 42 anos e responsável pelo bar “77”, explica que as novas medidas vão prejudicar o seu estabelecimento, uma vez que, “durante o dia, o negócio é bastante parado”. A dona do bar é da opinião que o problema não vai ser resolvido pelas novas medidas, uma vez que “as pessoas vão continuar na rua”. “De segunda a quinta fechamos por volta das 2h00 e as pessoas continuam lá fora”, acrescenta.